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A confiança

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A cada seis meses faço, com um pequeno grupo de voluntários e professores do MBA de Marketing e Negócios Digitais (curso que coordeno na Fundação Getulio Vargas), uma pesquisa que tem como objetivo entender como os brasileiros enxergam a presença da internet e de tecnologias digitais em suas vidas. Conhecendo angústias, geradores de ansiedade, pontos de conforto e várias outras características, o mercado pode preparar produtos que atendam de forma mais precisa à necessidade da sociedade, além de ser capaz de criar campanhas mais bem direcionadas e assertivas.

Em sua segunda edição, o Indicador de Confiança Digital (ICD) apresentou uma queda de aproximadamente 10% em seu desempenho, passando de 3,9 para 3,4 (numa escala que vai até 5). Apesar de ainda poder ser considerado um povo otimista diante da presença da tecnologia em suas vidas, nossa população apresentou alguns sinais de cansaço.

Tivemos um segundo semestre com vazamento de dados em diversos sites, crise do Facebook chegando até o Senado dos Estados Unidos e Cambridge Analytica, atuando de uma forma que ainda não conseguimos ter certeza da dimensão. Não menos importantes foram as questões da credibilidade das revisões existentes nos sites de comércio eletrônico, viagens, hotéis e, claro, as fake news que abalam a credibilidade de, potencialmente, todo conteúdo repassado.

Esses não são poucos motivos, nem em quantidade nem em importância, mas a razão mais apontada nas entrevistas para o desânimo em relação aos meios digitais foi a arena montada nas eleições presidenciais. Além de juntarem alguns dos eventos que mencionei antes, as discussões geraram inúmeras brigas e acabaram mostrando o lado verdadeiro de muita gente. O cenário de extrema polarização inundou a internet de conteúdo sobre o tema. Entre ideias, ataques e mentiras, o assunto foi pauta onipresente em conversas gerais, grupos de amigos e família no Facebook e WhastApp. As pessoas ficaram esgotadas.

Passada a fase mais intensa, os ânimos estão mais calmos, mas isso deve mudar. Com a posse do presidente eleito, o tema deve ressurgir e ganhar força, principalmente durante os primeiros 100 dias de governo. A oposição, certamente, apontará qualquer falha, incoerência ou agendas de que não concorde e os apoiadores de Bolsonaro farão justamente o contrário, uma ação esperada e normal dos dois lados. Minha expecativa é que, salvo algum evento com grande impacto e inesperado, a tendência é que dessa vez a discussão seja menos intense e duradoura. Teremos uma manifestação menor do que nas eleições e, por isso, não será uma surpresa se o índice subir na próxima medição.

É interessante que, com uma série histórica sendo gerada, já é possível identificar quais comportamentos são padrões, mesmo que apresentem pequenas variações, quais se apresentam em função de anomalias e sazonalidades. Assim como aconteceu na primeira edição, os mais jovens, com idades que variam entre 13 e 17 anos, se mostraram como a faixa etária menos otimista, tendo a menor pontuação. Essa faixa apresenta um paradoxo interessante: são consumidores ávidos por tecnologia, apresentam o melhor desempenho na pergunta “a internet me ajuda a relaxar” e, por outro lado, apresentam o pior resultado ao dizer que a tecnologia vai gerar novos empregos.

Outro comportamento que se apresentou novamente foi o otimismo da faixa acima de 65 anos. Os idosos tiveram um dos resultados mais altos na primeira edição do estudo e, agora, tiveram o melhor desempenho. Eles apresentam os resultados mais altos em 3 dos 7 indicadores.

Como disse antes, mais uma vez o ICD mostrou que o brasileiro, de uma forma geral, é otimista quando o assunto é internet e tecnologia. Um total de 1.500 pessoas participaram da segunda edição. Coletamos dados através de meios on e off-line e participaram brasileiros de todas as idades, regiões do país, com renda e níveis de escolaridade diversos. Para baixar o relatório completo ou participar da próxima edição, basta acessar www.indicadorconfiancadigital.com.br. Sigo por aqui, tentando entender como funciona nos meios digitais a característica fundamental em qualquer relacionamento pessoal ou comercial. A confiança.