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O travesseiro de rico é diferente do travesseiro de pobre

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O Jornal do Brasil denunciou pela primeira vez em 2013 e 2014 que esse senhor hoje acusado de corrupção tinha informações privilegiadas. A sua prisão é a maior prova de seus privilégios de informações, já que este sabia muito antes de ser expedida. O jornal O Globo informa que o empresário é acusado de ter se beneficiado de informações privilegiadas para lucrar com venda de ações. A atuação de Eike como "insider trading", termo que denomina a negociação com informações privilegiadas desconhecidas pelo público, com objetivo de ganhar vantagem no mercado é cobrada pelo MPF com o bloqueio de R$ 1,026 bilhão do patrimônio do empresário, para pagamento de multa.

Este é sim um homem de informações privilegiadas. Além dos lucros reais com essas informações para lá de privilegiadas. O empresário conseguiu sair do presídio de Água Santa em poucas horas, enquanto os presos comuns ficam lá por 30 dias. Eike foi transferido para um presidio mais reservado - com menos presos. A maior tristeza é saber que a Administração Penitenciária acredita que os presos pobres são piores que o preso rico. Pelo contrário, quem ameaça a nossa sociedade não são os pobres de Bangu, mas sim os ricos de colarinho branco que moram no exterior, com dinheiro roubado, desfrutando de todos os luxos com dinheiro que deveria servir ao povo.

Estes, quando mais velhos, voltam para o Brasil no frio do inverno americano e europeu e voltam para suas casas no exterior quando chega o inverno no Brasil. São homens que sempre tiveram informações privilegiadas. Informações até mesmo na Receita Federal para não pagar impostos que deveriam ser usados para que a população tivesse acesso à educação e saúde.

Enquanto os homens de informações privilegiadas desfrutam do luxo, nas favelas falta leite para as crianças, falta remédio, falta comida, falta investimento em educação, inclusão e oportunidade aos jovens. Dizem que pobre tem inveja de ricos. Eu discordo. A inveja é um sentimento do inseguro que tem consciência de que poderia ter algo, mas não tem. O pobre sabe que pode ter. Por isso, ele não sente inveja. Ele sente raiva. Não falta competência para o pobre para ter. O que nós não temos são as informações que os ricos têm. Afinal, se nos faltasse competência já havíamos morrido nesse país de diferença mortal.

É tanto privilegio de informação que até mesmo um travesseiro apareceu nas mãos de Eike quando estava sendo preso. Vocês já viram alguém sendo preso sem algemas e com travesseiro na mão? A preocupação de Eike era com o travesseiro, como se esse fosse seu maior problema, enquanto há gente honesta e trabalhadora sustentando suas cabeças em tijolos e madeiras nas favelas.

Nós, moradores das comunidades, temos que aprender a ter o hábito de ler os jornais onde as comunidades escrevem, para conhecer e trocar ainda mais a realidade das favelas.

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade