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O pedinte, a rua e o abandono do Estado

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É impossível não observar a crescente população pedinte e que ocupa as ruas da cidade. São mulheres de várias idades, crianças e idosos(as), muitos(as).

É devastadora a força da mão raivosa e vingativa da elite brasileira. Sim, já escrevi sobre isso, sim, mas agora os efeitos vão se materializando em uma horda miserável e execrada de uma sociedade doente e preconceituosa.

Ao passar pela Rua Santa Luzia, rumo a um compromisso de trabalho, vejo dois meninos engraxates, o maior abordou um passante que não quis o serviço. O menor foi atrás do homem e conseguiu vender seu serviço. 

Seu amigo, segurando a caixa, um pouco mais afastado, ficou aguardando seu pequeno amigo e, próximo a ele, uma senhora falava distraidamente ao celular. Uma outra que passava olhou o menino e, correndo aos berros, dizia que o menino ia furtar o celular da mulher.

Olhei para a mulher que ainda estava ao telefone e, absorta em sua conversa, nem se deu conta. O menino, ansioso pelo amiguinho, também não, e eu, indignada, falando pra mim e vociferando, só vendo a injustiça que poderia ter levado dois meninos a um desfecho muito ruim.

Além de serem lançados na mais precária situação, por uma forma de governar que penaliza os mais pobres, exacerba as desigualdades e aprofunda a situação de miséria a cada dia, com políticas impiedosas e trata com mão de ferro os mais necessitados, são criminalizados por existirem, por circularem e por trazerem consigo defeitos terríveis; a cor e a origem de nascimento.

De fato, nestas últimas semanas, vem ficando mais e mais óbvio quem tem ou não direito à cidadania plena por aqui. 

*Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel