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Milhões investidos em segurança, e o Alemão sangra diariamente

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A Audiência Pública realizada nesta última segunda-feira no auditório da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, para dar visibilidade ao que vivenciam os moradores e moradoras do Complexo do Alemão, e cobrar a retirada imediata dos policiais que ocuparam diversas casas e transformaram em "bases" avançadas da UPP, se transformou em uma verdadeira série de episódios que denunciaram  mais do que abusos.

O que se revelou em quase cinco horas de audiência foi um desfile de depoimentos que poderíamos comparar aos de Nuremberg. Cada depoimento, como os da mãe do pequeno Eduardo, morto aos 10 anos por um tiro de fuzil na cabeça no Alemão, dona Terezinha, ou o de Dalva, mãe de Thiago, morto com cinco tiros na Chacina do Borel em 2003, ou a fala emocionante da artista plástica Mariluce Mariá, que em seu trabalho, nos brinda com um Alemão colorido e alegre, faziam com que nos questionássemos da sanidade da gestão deste estado.

O Alemão sangra diariamente e quem derrama esse sangue são os articuladores dessa política de segurança que criminalizam os pobres.

Milhões investidos em Segurança Pública, na tentativa de conter a violência nas favelas, segundo o discurso oficial, em quase 10 anos de ocupação das favelas e o que vem se produzindo de resultados práticos é uma ascendente no número de mortes de inocentes e nenhuma redução na circulação de armas e drogas.

Ao questionarem  qual o sentido de produzir situações onde a narrativa oficial diz que um menino de 10 anos pode produzir tal ameaça, que 10 homens armados de fuzis o executem de forma tão brutal, a ponto de sua mãe ter que recolher partes de seu corpo em sua própria sala, questionam na verdade um modelo de gestão da segurança pública que faz escoar milhões do erário público, sem atingirem nenhum objetivo.

Essa desastrosa atuação do estado só faz reforçar a sensação de que se faz na verdade uma guerra aos pobres, e um movimento constante de reforçar a ideia de que seus espaços de moradia se configurem no imaginário popular como o lugar da violência, e assim poder utilizar este lugar como local da constante necessidade da utilização de armas cada vez mais poderosas e ainda mais letais, alimentando um mercado bélico poderoso e global.

Não há debate sério sobre essa política de "combate" às drogas ineficaz e produtora de um volume de mortes absurdo entre os mais vulnerabilizados. Todo o investimento público e privado na política de segurança da era Cabral, que ainda se estende  à atual gestão, obviamente mostra total fracasso.

A ineficiência do projeto de segurança se traduz nas palavras de uma das mães de vítimas do estado. "José Mariano Beltrane deixou o cargo gloriando-se de ter prendido os maiores bandidos, e não foi capaz de perceber que estava a serviço do chefe de uma das maiores e mais danosas organizações criminosas".

* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel