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As lambanças de Paes, o descaso com as favelas e o buraco nas contas do Rio

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Segundo uma auditoria no Porto maravilha, publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, a gestão do ex-prefeito Eduardo Paes desviou dinheiro de obras de infraestrutura no Morro do Pinto, na região central da cidade, para construção do Museu do Amanhã. Ao todo, R$ 112,3 milhões que seriam investidos na favela foram realocados para o museu.  

Não podemos negar a importância do Museu do Amanhã, que enobrece ainda mais a nossa cidade. Mas é inaceitável que este dinheiro seja desviado de uma questão que deveria ser tratada com prioridade. As favelas surgiram há mais de cem anos e até hoje vivem, ou melhor sobrevivem, abandonadas pelo poder público. Uma vez que todo esse montante poderia ser investido na melhoria da qualidade de vida de milhares de moradores, foi investido em um espaço que está longe de ser para favelado.

Quase todos os dias moradores de favelas sofrem com a violência, pessoas perdem suas vidas vítimas de balas perdidas em confronto. Nossas crianças estão morrendo dentro da própria escola e jovens morrendo dentro de casa. A culpa não é só de quem atira, a culpa é deste senhor ex-prefeito e de todos que governam essa cidade nos últimos anos. Tudo isso foi permitido e é alimentado por esses que só sobem a favela para pedir voto.

Quantas casas em lugares insalubres, quanto esgoto, quanto lixo, quantas escadas e becos, tudo isso poderia ser resolvido, mas nosso dinheiro é sempre desviado, roubado, e para favela só sobra o descaso e a violência. Não fizesse o museu, não fizesse o Porto Maravilha, mas a favela deveria receber as obras de infraestrutura. São mais de 100 anos de atraso. 

Além deste desvio que prejudicou as favelas, agora assistimos a prefeitura afirmar que não terá como pagar os servidores a partir de setembro, devido ao rombo deixado pela gestão anterior. O ex-prefeito deve ser responsabilizado criminalmente por deixar a cidade em tal situação. 

A prioridade da Prefeitura deve ser o pagamento dos servidores e não dívidas deixadas pelas lambanças de Paes, como a dívida do VLT que já ultrapassa R$ 80 milhões para um serviço que só serve para turista. 

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade