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Argentina muda presidente do Banco Central em plena negociação com FMI

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O economista Luis Caputo renunciou nesta terça-feira (25) à presidência do Banco Central da Argentina, quando o país negocia com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a ampliação de um empréstimo de 50 bilhões de dólares e em meio a uma greve geral.

A renúncia - "por motivos pessoais", de acordo com a declaração - ocorre quando o presidente Mauricio Macri está em Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU.

Por ora, o vice-ministro da Economia, Guido Sandleris, foi nomeado em seu lugar. O economista trabalhou para o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento e conta com ampla trajetória acadêmica e uma passagem pelo FMI.

O Fundo disse nesta terça que espera manter a relação com o Banco Central da Argentina (BCRA), apesar da saída.

"Esperamos que nossa relação seja próxima e construtiva com o BCRA sob a liderança de Guido Sandleris", disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, que garantiu continuar "trabalhando intensamente com o objetivo de concluir as negociações em nível técnico em muito pouco tempo".

Macri se reuniu na segunda-feira com investidores e jantou com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.

"A renúncia de Caputo deve ser analisada no contexto de negociação com o FMI. Ele defendia a necessidade de um aumento importante no montante da assistência e dos desembolsos, além de buscar maior flexibilidade para intervir no mercado cambial", avaliou Matías Carugati, economista-chefe da consultoria Management & Fit.

"Sua saída pode ser lida como sinal de que essas coisas não vão acontecer, ou, pelo menos, não no grau que Caputo considerava apropriado", completou.

A mudança na direção do banco levou a uma desvalorização de 2,75% da moeda, cotada a 39,22 pesos por dólar nesta terça. Hoje foi é dia de pouco movimento, já que os funcionários de bancos privados participam da greve geral.

No centro financeiro de Buenos Aires, apenas uma casa de câmbio está aberta, e há poucos clientes.

"O dia está morto, não acontece nada", disse uma funcionária à AFP.

O peso perdeu mais de 50% de seu valor apenas neste ano.

As grandes centrais sindicais argentinas convocaram para esta terça-feira uma greve geral de 24 horas contra as medidas de austeridade e contra o acordo com o FMI. Essa é a segunda paralisação desde o apoio financeiro em junho e a quarta desde que Macri assumiu, em dezembro de 2015.

Sem transporte público, com as estações de trem e entradas de metrô fechadas, bem como muitas lojas sem funcionar hoje, os argentinos se mobilizaram em seus carros, e alguns, de bicicleta, pelas ruas de Buenos Aires.

Os sindicatos também pararam o tráfego aéreo, os fretes terrestres, os bancos e a administração pública, incluindo escolas, hospitais e universidades.

"O governo deve entender que não vão ser os trabalhadores que vão pagar pela crise, porque não fomos nós que a geramos. Nós não enriquecemos com a especulação financeira. Não somos nós que especulamos contra o dólar, mas nós somos aqueles que estão sofrendo a brutal desvalorização das nossas condições de vida", disse a professora Erica Seiter à AFP.

A convocação foi para uma greve sem manifestações, mas sindicatos e partidos de esquerda radical fizeram pequenos bloqueios nos acessos à capital, que foram liberados no meio da manhã.

Com os índices macroeconômicos em declínio - uma retração do PIB de 2,4% para este ano e inflação projetada acima de 40% -, o humor dos argentinos está cada vez pior.

O desemprego continua a subir, com 9,6% na segunda metade de 2018, e estima-se que a taxa de pobreza que será anunciada nesta semana vai romper a tendência de queda.

Uma greve anterior, em 25 de junho, deixou prejuízos de cerca de 29 bilhões de pesos, ou 1 bilhão de dólares, segundo o governo.

Macri, um liberal de centro-direita, insiste em que a Argentina não pode gastar mais do que produz e prometeu zerar o déficit primário até 2019. Para isso, ele precisa que o Congresso, onde não tem a maioria, aprove o projeto de orçamento apresentado na semana passada.

A pressão dos sindicatos, que exigem reajustes salariais em linha com a inflação, é um dos principais obstáculos.

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