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'The Wall Street Journal': Lava Jato aquece mercado de compliance no Brasil

Escândalo de corrupção estimulou empresários a investir em agentes de conformidade

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Matéria publicada nesta sexta-feira (24) pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal conta que as empresas no Brasil estão contratando mais do que nunca agentes de compliance* para erradicar a corrupção.

O diário avalia que o aquecimento deste setor é consequência do escândalo da lava jato. A investigação brasileira de três anos sobre suborno e propinas na Petrobras revelou um amplo esquema de irregularidades  na região, atingindo dezenas de empresários e políticos do país e contribuindo para o afastamento da presidente Dilma Rousseff no ano passado.

Agora, as corporações brasileiras - sejam elas acusadas ou não de atos ilícitos - estão tomando medidas para se protegerem contra possíveis litígios do cada vez mais assertivo judiciário e promotores públicos do país, diz o Journal.

> > The Wall Street Journal Brazil Corruption Scandal Has Companies Rushing to Bulk Up Compliance Ranks

"Estamos testemunhando uma grande mudança no Brasil - há um entendimento na sociedade agora de que quem não leva a sério as questões de corrupção e transparência não terá lugar no mercado no futuro", disse Jorge Abrahão, presidente da Instituto Ethos do Brasil, uma organização de responsabilidade social corporativa.

Roberto Setubal, presidente-executivo do Itaú Unibanco Holding SA, disse que o maior banco do Brasil está "mais vigilante e rigoroso" para garantir que as operações de seus clientes atendam aos padrões de conformidade. 

"Isso pode ser atribuído à Operação Lava Jato em parte e a todas as outras operações de combate à corrupção que vimos", afirmou, acrescentando que o cumprimento é a única área em que o Itaú não cortou empregos em meio à recessão brasileira. 

"Na verdade, nós expandimos."

Como parte da Operação Lava Jato, promotores brasileiros acusaram executivos da Petrobras, companhia estatal de petróleo e algumas das maiores empresas de construção do país de conluio há mais de uma década por inflacionar o preço dos contratos, desviando parte de seus lucros para os legisladores e outros funcionários políticos. 

Em dezembro, a construtora brasileira Odebrecht SA assinou o maior acordo anticorrupção da história com autoridades de três continentes, concordando em pagar entre US $ 2,6 bilhões e US $ 4,5 bilhões para autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça.

Ronaldo Fragoso, sócio e líder de assessoria de risco da Deloitte Touche Tohmatsu no Brasil, disse em uma entrevista que a Deloitte dobrou seu departamento de conformidade no país nos últimos dois anos para 400 pessoas e planeja aumentá-lo em 50-100% até o final De 2017.

"Há uma falta de profissionais nesta área no Brasil", disse Fragoso. 

"Podemos ser forçados a trazer profissionais de fora do país."

Para as empresas de recrutamento do Brasil, a demanda por agentes de conformidade está fornecendo uma onda de negócios bem-vinda em um mercado de trabalho que antes era morno, finaliza The Wall Street Journal. 

*O Departamento ou Unidade de Compliance em uma instituição é o responsável por garantir o cumprimento de todas as leis, regras e regulamentos aplicáveis, tendo uma vasta gama de funções dentro da empresa (monitoramento de atividades, prevenção de conflitos de interesses, etc). Atuando como a política interna de uma empresa, é improvável que o Departamento de Compliance seja a unidade mais popular internamente. No entanto, é o departamento com importância na manutenção da integridade e reputação de uma empresa. Embora os custos com Compliance tenham disparado nos últimos anos, os custos por não conformidade - mesmo que acidental - podem ser muito maiores para uma instituição. O não cumprimento de leis e regulamentos pode levar a pesadas multas monetárias, sanções legais e regulamentares, além da perda de reputação.