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Em debate, candidatos tentam associar Eduardo Paes a Sérgio Cabral

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O primeiro debate entre candidatos ao governo do Rio, realizado nesta quinta-feira (16), na TV Bandeirantes, foi marcado por discussões acerca de segurança pública e de ataques ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), perpetrados pelo ex-governador Anthony Garotinho (PRP), o deputado federal Indio da Costa (PSD) e o vereador Tarcísio Motta (PSOL). Com a presença de oito dos doze concorrentes — Marcelo Trindade (Partido Novo), Dayse Oliveira (PSTU), André Monteiro (PRTB) e Luiz Eugênio Honorato (PCO) ficaram de fora porque suas coligações não cumprem a exigência prevista pela legislação eleitoral de contar, pelo menos, com cinco representantes no Congresso — o tema mais debatido no encontro foi o da segurança pública.

Antes mesmo do início do debate, o assunto já se impunha sobre a pauta dos postulantes ao cargo de governador do Rio. A filósofa Marcia Tiburi (PT) foi a primeira a chegar aos estúdios da Band, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Pela portaria também passaram Tarcísio Motta, o juiz federal Wilson José Witzel (PSC), o deputado estadual Pedro Fernandes (PDT) e Índio da Costa. Anthony Garotinho, o senador Romário (PODEMOS) e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) entraram pela garagem. Os que passaram pela portaria deram breves entrevistas, e todos destacaram a segurança como o principal tema não só do encontro, mas da campanha. 

PRIMEIRO BLOCO

Intervenção Federal

Anthony Garotinho disse que "a intervenção não disse a que veio. Ela tem de ser planejada". O ex-governador acrescentou que pretende, se eleito, modernizar a polícia e transformar presídios em unidades de trabalho.

O senador Romário reiterou que, num primeiro momento, foi favorável à intervenção. "Sei que nada aconteceu por acaso... Essa Intervenção teve seus problemas. Hoje eu sou totalmente contrário a essa Intervenção", frisou. 

Pedro Fernandes disse que montará com uma grande força-tarefa com o governo federal e que contratará mais de 1.500 policiais militares, já aprovados em concurso. "Temos dinheiro para isso e vamos ter oportunidade de mostrar", destacou o candidato do PDT.

Índio da Costa chamou a intervenção de "engodo". Afirmou que, a pedido do Estado, votou a favor no plenário da Câmara. Comentou que irá investir na inteligência da polícia e, também, que "quem estiver portando um fuzil, tendo a idade que tiver, escolheu a guerra e tem que sofrer as consequências". "Esse governador aqui vai ficar, entre polícia e bandido, do lado da polícia", completou.

Wilson José Witzel disse que "a intervenção federal veio pra suprir uma deficiência de comando do Estado do Rio". Assim como Fernandes, afirmou que fará um "modelo de força-tarefa". Ademais, tal qual Índio da Costa, garantiu que pedirá aos policiais para que atuem de maneira firme contra quem estiver portando um fuzil. E foi além: "Autorizarei nossa polícia a abater [quem estiver portando um fuzil]."

O ex-prefeito Eduardo Paes considerou a discussão sobre a intervenção "meio desnecessária". "A intervenção não é uma panaceia, não vai resolver todos os problemas. Vamos assumir o comando da segurança pública, mas vamos solicitar que as forcas armadas continuem colaborando sob comando do governador", destacou o candidato do DEM.

A filósofa Marcia Tiburi, do PT, se mostrou contrária à intervenção. "[Ela] reflete a violência do golpismo no Brasil, que usa o Rio de Janeiro como vitrine". Tarcísio Motta, do PSOL, pensa de maneira similar. "A intervenção foi uma jogada eleitoreira do Temer, sem planejamento algum", afirmou. O psolista enfatizou que irá 'substituir o confronto pela inteligência'.

Uerj

Tarcísio Motta atacou o MDB do ex-governador Sérgio Cabral, antiga sigla de Eduardo Paes, ao responder sobre a instituição. "[A Uerj] foi sucateada pela máfia do PMDB. Isso não pode continuar", disse. "É preciso integrar o hospital Pedro Ernesto para poder diminuir as filas", completou o psolista.

A petista Marcia Tiburi disse ser 'importante que se pense na Uerj com uma visão estratégica'. A filósofa também valorizou a política de cotas da instituição. Já Eduardo Paes frisou que 'o orçamentamento da Uerj deve estar disponível para a Uerj". Também garantiu que a instituição terá protagonismo em seu governo. Romário disse o mesmo, e destacou que seu programa de governo foi elaborado por pessoas da universidade.

Índio da Costa, Witzel e Pedro Fernandes seguiram linhas similares, comentando que garantirão a autonomia financeira da Uerj. Também valorizaram a política de cotas da instituição. Anthony Garotinho, por sua vez, disse que tal política começou durante seu governo. O candidato do PRP aproveitou para atacar seus adversários: "O meu compromisso com a Uerj não é blablabá. Os maiores bandidos do Rio estão nos gabinetes do Palácio Guanabara", disparou.

"Duelos"

O debate tomou novas proporções com o início das perguntas e respostas entre os candidatos. Marcia Tiburi questionou Eduardo sobre o que ele faria para reduzir o número de mulheres assassinadas no Estado. O ex-prefeito afirmou que ampliará o número de delegacias especializadas, bem como fortalecê-las.

A segurança, como previsto, foi a protagonista do primeiro bloco. Quando perguntado sobre como as escolas operariam em seu governo, Índio da Costa comentou sobre os inúmeros tiroteios que acabam por atrapalhar aulas e, por conseguinte, alunos. 

Certa animosidade começou a tomar conta do debate quando Índio da Costa levantou uma bola para Garotinho. O deputado federal questionou a atuação de Clarissa, filha do ex-governador, na secretaria de Desenvolvimento, Emprego e Inovação no governo Crivella. Em sua resposta, Garotinho concordou com os comentários de Índio, afirmando que sua descendente teve dificuldades na pasta por "falta de recursos".

 "Ela queria implementar programas importantes, como o Restaurante Popular, mas não teve como", respondeu, aproveitando para alfinetar Eduardo Paes, dizendo que o ex-prefeito gastou todos os recursos, causando rombos, construindo "ciclovia de papel" e pavimentando vias com "asfalto Sonrisal". 

O ex-governador ainda aproveitou para mencionar que, em seu blog, já havia divulgado inúmeras polêmicas envolvendo o MDB e Paes, inclusive conta bancária no Panamá. A conta pertenceria ao pai do ex-prefeito, Valmar Souza Paes, e teria capital social de 4 milhões de dólares.

A Bandeirantes concedeu direito de resposta a Eduardo Paes, que defendeu sua família. O ex-prefeito também criticou a "dobradinha Garotinho-Índio". Para o candidato do DEM, os dois se juntaram para atacá-lo. Além disso, o ex-prefeito aproveitou para atacar o clã Garotinho, dizendo que o ex-governador é "tão irresponsável que levou a própria mulher para a cadeia".

Segundo bloco

Anthony Garotinho também teve direito de resposta concedido pela Bandeirantes. O candidato do PRP, mais uma vez, voltou a citar seu blog. Comunicador nato, o ex-governador fez questão de lembrar que Eduardo Paes não desmentiu a existência da conta no paraíso fiscal. Também disparou, de maneira enfática: "Renuncio a minha candidatura hoje se alguém provar algum enriquecimento ilícito meu".

Ao fazer a defesa de sua mulher, Rosinha, Garotinho aproveitou para, novamente, atacar o ex-prefeito. Ao afirmar que Paes convive com "pessoas que agridem mulheres", Garotinho fez referência ao deputado federal Pedro Paulo (DEM), aliado do ex-prefeito. Muitos dos presentes vibraram após a declaração do ex-governador.

Após o direito de resposta de Garotinho, Paes pediu novamente o microfone. Desta vez, a Bandeirantes lhe negou. Índio e Fernandes também tiveram seus momentos com ânimos mais acalorados e trocaram farpas sobre números referentes à máquina do Estado.

No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas feitas por internautas. Quando questionado sobre a situação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Romário preferiu voltar sua resposta para a área da saúde no geral. "[A Saúde] é a pasta do governo mais assaltada pelos bandidos do nosso Estado", ressaltou. "Vou montar uma auditoria para analisar a situação", completou o senador.

Ao responder sobre o metrô, Eduardo Paes afirmou que focará na 'sofisticação das linhas de trem, transformando-as em metrôs na superfície'. O candidato do DEM também prometeu a finalização da construção da estação da Gávea. 

Tarcísio Motta, respondendo pergunta sobre as unidades para menores infratores no Estado, ressaltou que "é preciso transformar as unidades do Degase em escolas, e não em prisões". "A juventude pobre e negra no Brasil não é a que causa violência. Ela é a é vitima da violência", acrescentou o psolista. Marcia Tiburi replicou: "Há uma programação de genocídio de jovens negros. A gente só tem candidato branco, e, de mulher, só tem eu aqui". Romário, posteriormente, fez questão de enfatizar que é negro. 

A segurança pública voltou a fazer parte da pauta. Witzel destacou que "a Polícia Civil estará independente para agir" e que "os delegados vão ter os instrumentos necessários para agir". Índio, por sua vez, voltou a alfinetar Pedro Fernandes, afirmando que o Estado irá 'enxugar gelo se colocar mais policiais do jeito que está'. "Não sou contra a contratação de policiais, mas tem que investir na investigação", afirmou.

Terceiro bloco

No terceiro bloco, os candidatos voltaram a "duelar". Tarcísio Motta aproveitou para, assim como Garotinho e Índio, atrelar o nome de Eduardo Paes ao do ex-governador Sérgio Cabral. O psolista disse: "Todo mundo sabe que você é cria do Cabral. Mudou de partido, mas o partido não saiu de você. Até apelido na Lava Jato você tem: nervosinho".

Romário aproveitou e pegou carona no tema. O senador disse que sente confortável para falar, pois, segundo ele, após oito anos de política, ainda é ficha limpa. O candidato do PODEMOS aproveitou para desmentir reportagens sobre sua família.

Witzel perguntou a Garotinho sobre o que faria para evitar casos de corrupção, bem como esquemas de lavagem de dinheiro no governo. O ex-governador, mais uma vez, usou seu poder de comunicação. Ele rebateu com uma pergunta ao ex-juiz federal: "A quem o senhor se refere?"

O ex-governador, então, perguntou a Marcia Tiburi se tem planos para a população em condição de rua. A petista disse que sim e acrescentou, num bom momento, que, enquanto os demais candidatos 'discutiam relação', ela queria apresentar propostas.

A professora de filosofia ressaltou que mudará a forma como é utilizada o fundo de combate a pobreza.

Sobre evasão escolar, pergunta de Índio da Costa, Pedro Fernandes disse que, caso eleito tem, ao menos uma solução. O pedetista disse que uma de suas propostas para reverter a situação e fazer com que as escolas atuem em horário integral.

Considerações finais

Pedro Fernandes repetiu que "é preciso mudar a política" em seu discurso final. O pedetista também reafirmou o combate a corrupção. Já Romário destacou sua origem humilde e frisou que isso é importante, pois faz com que ele entenda as necessidades da população. 

Índio da Costa garantiu estar "pronto para ser governador". O candidato do PSD disponibilizou ainda um número de telefone para que os eleitores possam entrar em contato com ele. Wilson José Wiltzel também afirmou estar pronto para governar o Rio de Janeiro.

Marcia Tiburi disse que não 'gostaria de estar no debate, ao lado daqueles políticos'. "Minha candidatura representa simplesmente a vontade que pessoas como eu, que nunca se envolveram com a política, contribuir com seus saberes com a sua inteligência, com a sua pesquisa, com seu conhecimento, com a sua capacidade de engajamento e comprometimento", destacou a petista.

Tarcísio Motta e Anthony Garotinho seguiram no ataque a Eduardo Paes. Tarcísio alfinetou a velha política e as relações dos seus adversários. Para ele, há ainda possibilidade de mudança.

Já Anthony Garotinho voltou a comparar Sérgio Cabral com um jacaré, prática já adotada há algum tempo, e tentou, mais uma vez, atrelar Eduardo Paes ao ex-governador, condenado, em primeira instância, a uma pena de 14 anos e dois meses de reclusão.

"Cara de jacaré, boca de jacaré e não é jacaré... É como um candidato que está aqui", ironizou Garotinho, se referindo ao ex-prefeito.

Após o evento, em declaração ao JORNAL DO BRASIL, Eduardo Paes se defendeu e aproveitou para atacar seu adversário. "Infelizmente deixam ex-presidiários participarem do debate", disparou o candidato do DEM. Rodrigo Maia, da mesma sigla do ex-prefeito, acompanhou o debate, e comentou que Paes 'se mostrou preparado e, certamente, é um dos favoritos'.

Garotinho voltou ao ataque. O ex-governador afirmou que Paes ficou "desnorteado e fez jus ao apelido de 'Nervosinho'".