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O Banco Safra, a Andrade Gutierrez e o Grupo Espírito Santo

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A notícia de que o Banco Safra abriu um processo na Justiça dos Estados Unidos contra a empreiteira Andrade Gutierrez traz à tona uma série de escândalos e acusações envolvendo as instituições, suas subsidiárias aqui e no exterior e um emaranhado de . 

No caso deste processo, a subsidiária do banco nas Ilhas Cayman pede indenização por perdas no investimento em títulos de dívida (bônus) emitidos pela empreiteira em decorrência da Lava Jato. De acordo com reportagem do Valor Econômico, a emissão de bônus foi coordenada pelos bancos BTG Pactual, J. P. Morgan e Espírito Santo. O Safra quer ressarcimento de eventuais prejuízos por operações feitas com os papéis entre abril de 2013 e junho de 2015, alegando que a Andrade Gutierrez deixou de informar ou fez declarações falsas a respeito do envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

O curioso é que personagens desta ação são, contudo, presença constante em noticiários envolvendo escândalos e acusações. A Andrade Gutierrez pagou nada menos que R$ 1 bilhão em acordo de leniência no âmbito da Lava Jato, onde enfrenta pesadas acusações de corrupção. Publicou inclusive um pedido de desculpas, reconhecendo os "erros graves" que cometeu.

O Banco Safra aparece em investigações nas operações Zelotes e também Lava Jato. A força-tarefa chegou a pedir a abertura de inquérito para investigar se o Safra cometeu crime financeiro em um acordo da ordem de R$ 10,4 milhões para renegociar as dívidas da empresa Marsans, adquirida pelo doleiro Alberto Youssef. 

No caso da Operação Zelotes, a Justiça Federal aceitou denúncia contra o acionista majoritário, Joseph Safra, e um ex-diretor do grupo, João Inácio Puga, acusados de pagar propina de R$ 15 milhões para obter decisões favoráveis no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado à Receita Federal.

Como se não bastasse, o Banco Espírito Santo - uma das instituições financeiras que coordenou a emissão de bônus da Andrade Gutierrez (alvo da ação do Banco Safra nos EUA) - pertence ao grupo Espírito Santo, envolvido num rumoroso e bilionário imbróglio envolvendo a Oi. Em 2014, a Portugal Telecom e a Oi firmaram bases de um acordo para uma fusão, na qual a PT receberia da Oi a dívida da Rioforte, em contrapartida da entrega das ações do capital da Oi para a mesma. Na ocasião, houve um calote de nada menos que 95% da dívida da Rioforte com a Portugal Telecom (PT), o equivalente a 847 milhões de euros. A Rioforte é por sua vez uma sociedade de investimentos do Grupo Espírito Santo, que é sócio da Portugal Telecom, e tem ativos imobiliários no Brasil e em Portugal. Ela tem 49% da Espirito Santo Financial Group, que tem 20% do Banco Espírito Santo.

Vale destacar que, entre os sócios brasileiros da Oi em 2014 estava AG Telecom, que pertence justamente ao Grupo Andrade Gutierrez.

Os braços do Grupo Espírito Santo no Brasil

O Grupo Espírito Santo, de acordo com informações de seu website, desenvolve atividades financeiras no Brasil, direta ou indiretamente, desde 1976, dois anos após a Revolução dos Cravos que derrubou o regime salazarista em Portugal. Na época, os acionistas viraram alvo de intensa perseguição política, o banco foi nacionalizado e os principais sócios deixaram Portugal. Iniciaram, então, atividades financeiras no Brasil, na Suíça, na França e nos Estados Unidos, com destaque para a multiplicação dos negócios em terras brasileiras. Informações dão conta de que eles se associaram a grupos brasileiros, participando de operações ilícitas e causando grandes prejuízos. A família retomou o Banco Espírito Santo posteriormente.

Em 2014, Ricardo Espírito Santo Salgado, patriarca da família que comanda o Grupo Espírito Santo, e que havia deixado a presidência do Banco Espírito Santo em meio a um calote, tentou transferir para familiares bens pessoais no Brasil, onde morou entre 1976 e 1982.