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'Financial Times': França enfrenta luta nacional de ordem global

Macron e Le Pen oferecem uma escolha clara entre apoiar ou interromper o status quo

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A eleição presidencial francesa se transformou em uma disputa binária entre dois políticos de fora do mainstream político: um defensor firme da ordem liberal do pós-guerra e o outro com uma feroz intenção populista de derrubá-lo, afirma o texto do Financial Times publicado nesta terça-feira (25). Essas forças opostas colocam a França no centro das atenções  das democracias ocidentais.

A reportagem lembra que na noite de domingo (23), a disputa presidencial que os pesquisadores haviam previsto há muito tempo tornou-se realidade: Emmanuel Macron, o centrista independente, e Marine Le Pen, o líder da extrema-direita da Frente Nacional, venceram o primeiro turno e disputarão o segundo dia 7 de maio.

O duelo entre um eurófilo que fez  campanha baseada no otimismo e defende uma economia aberta e um político de extrema-direita que, aproveitando a angústia sobre a identidade francesa, quer erguer barreiras protecionistas e sair do euro, desencadeará alívio em toda a Europa, analisa o Times. As pesquisas, acertadamente precisas até este ponto, sugerem uma confortável vitória para Macron nesse cenário.

Pesquisas realizadas antes e depois da primeira rodada de votação preveem que  Macron, que criou seu partido, En Marche !, há apenas um ano, será o próximo líder da França, com cerca de 60% dos votos, acrescenta FT.

Espera-se que ele ganhe graças aos eleitores de centro-direita e de esquerda empenhados em vetar a candidata da FN. Se isso acontecer, a segunda maior economia da zona do euro terá resistido à maré populista que varreu Donald Trump para a Casa Branca e a Grã-Bretanha para fora da UE.

Terminar em segundo lugar na primeira rodada é um revés para um partido que gosta de afirmar que é o maior da França. Le Pen terá dificuldade em recuperar o ímpeto e tem poucas "reservas", ou eleitores para quem ela é uma óbvia segunda escolha, aponta o Financial Times.

"Le Pen não tem aliados no segundo turno", disse Jerome Jaffré, analista político da Cevipof, centro de pesquisa da Universidade Sciences Po.

Ainda assim, os resultados atestam a crescente raiva entre as classes trabalhadoras que se sentem perdedores da globalização e de seis décadas de integração na UE, destaca Financial Times. Se ela conquistar 40 por cento dos votos na segunda rodada, vai superar o feito de seu pai em 2002. Enquanto Jean-Marie Le Pen obteve 4,8 milhões de votos no primeiro turno em 2002, Le Pen ganhou 7,6 milhões, segundo estimativas do Ministério do Interior.

Na noite de domingo, os dois vencedores rapidamente apontaram um para o outro. Le Pen tentou retratar sua luta contra Macron, um ex-banqueiro de investimentos, como a batalha final dos "patriotas" contra os "globalistas" que ameaçam a civilização francesa, acrescentando: "O grande debate finalmente acontecerá".

Macron respondeu, duas horas depois, que queria "ser o presidente dos patriotas contra a ameaça dos nacionalistas", antes de tentar aproveitar o clima que impulsionou as campanhas de FN e Mélenchon. "Ouvi as dúvidas, a raiva, os temores do povo francês. Seu desejo de mudança também. "

No entanto, ambos concordam em uma coisa: sua vitória é a prova de que a política francesa entrou em uma nova era, marcada pelo colapso dos principais partidos que têm o poder compartilhado por quatro décadas, finaliza Financial Times.

"Uma página da história política da França foi transformada", disse Macron.

> > Financial Times