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Turquia mantém desafio aos Estados Unidos e lira turca volta a cair

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A Turquia manteve nesta sexta-feira (17) a prisão domiciliar de um pastor americano, apesar das novas ameaças de sanções dos Estados Unidos, que fragilizam ainda mais a lira turca e às quais Ancara prometeu responder.

Um tribunal de Esmirna (oeste) rejeitou nesta sexta uma nova demanda para suspender a prisão domiciliar do pastor americano Andrew Brunson, estopim da grave crise diplomática entre Ancara e Washington, aliados na Otan há meio século.

Esta decisão judicial ocorre um dia depois de o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, advertir que seu país adoraria sanções suplementares se Ancara não puser em liberdade o pastor Brunson.

A Turquia refutou as ameaças nesta sexta. "Replicamos [as sanções americanas] de acordo com as regras da OMC [Organização Mundial do Comércio] e continuaremos fazendo-o", declarou nesta sexta o ministro turco do Comércio, Ruhsar Pekcan, citado pela agência estatal Anatólia.

Congelamento de ativos de ministros de um lado e do outro, aumento recíproco das tarifas alfandegárias sobre certos produtos... As sanções já pronunciadas por Washington e as medidas similares adotadas por Ancara provocaram uma onda de pânico nos mercados.

A crise diplomática entre os dois aliados da Otan se mantém aberta e a lira turca - que pareceu se recuperar esta semana - voltou nesta sexta-feira a cair com força.

Ao final do dia, a moeda turca perdeu cerca de 4% de seu valor em relação ao dólar, e uma unidade da moeda americana voltou a passar das 6 liras.

- Rumo à Europa -

Mas em meio à crise, a Turquia obteve na quarta-feira um apoio de peso: o Catar prometeu investir 15 bilhões de dólares no país.

Além disso, Erdogan conversou esta semana com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, prova de que Ancara quer se aproximar da Europa após dois anos de tensões, devido à situação dos direitos humanos na Turquia.

Ato contínuo, o ministro turco das Finanças, Berat Albayrak, conversou na sexta-feira com seu contraparte francês, Bruno Le Maire. Nesta conversa, acertaram "reforçar sua cooperação e agir juntos frente às sanções americanas", segundo um tuíte de Albayrak. Equipes dos dois ministérios vão se reunir em Paris em 27 de agosto, de acordo com a agência Anatólia.

- "Moderadamente convincente" -

O ministro Berat Albayrak, que também é genro do presidente, Recep Tayyip Erdogan, tinha se esforçado na quinta-feira para tranquilizar os mercados, durante uma teleconferência inédita com vários investidores internacionais.

"Sairemos ainda mais fortes destas turbulências", declarou o ministro, em alusão à crise da lira, que este ano perdeu 40% de seu valor perante o dólar.

O ministro descartou, ainda, que seu país vá pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e negou que seu governo vá recorrer ao controle de capitais.

Para a Capital Economics, a intervenção de Albayrak foi "moderadamente convincente".

Os economistas estão preocupados com a disputa entre Ancara e Washington, mas também pelo controle de Erdogan sobre a economia.

Os mercados reagiram severamente à recusa do banco central a elevar suas taxas de juros, apesar da queda da moeda e de uma inflação galopante. Erdogan, partidário de um crescimento a qualquer preço, se opõe a isso.

Para a agência de classificação de risco Fitch, as medidas anunciadas estão "incompletas" e "é pouco provável que só estas permitam estabilizar de forma duradoura a divisa e a economia".

Para tanto, faltaria "um aumento da credibilidade das políticas e da independência do banco central, a tolerância de um crescimento mais frágil e uma redução dos desequilíbrios macroeconômicos e financeiros", considera a agência.

Na noite de sexta-feira, as agências de classificação de risco Standard and Poor's (SP) e Moody's rebaixaram a nota da dívida da Turquia. A SP inclusive projetou uma recessão em 2019.

A nota da SP baixou para "B+", caindo para a categoria de investimentos considerados muito especulativos.

A da Moody's passou a "Ba3" com uma perspectiva negativa, indicando que poderia ainda diminuí-la em alguns meses.

A agência destaca um "enfraquecimento continuado das instituições públicas turcas" e "as preocupações crescentes relativas à independência do banco central".

Prova talvez da aproximação desejada com a Europa, a Justiça turca ordenou nesta terça-feira a libertação de dois soldados gregos e na quarta, a do presidente da Anistia Internacional na Turquia, duas decisões inesperadas nestes dois casos que foram muito criticados na Europa.