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A derrocada da Odebrecht, que destruiu o país

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A delação de mais de 70 ex-executivos da Odebrecht era vista pela empreiteira como uma estratégia importante para a retomada da empresa, em grave crise após a sequência de escândalos envolvendo denúncias de propina a políticos em troca de favorecimentos em obras. Contudo, em detalhada reportagem, a jornalista Malu Gaspar mostra que a estratégia da empreiteira foi por água abaixo.

Apesar dos acordos firmados com as delações, a empreiteira segue com uma redução drásticas de suas obras e sem conseguir financiamento do BNDES.

"O acordo da empreiteira com o Ministério Público Federal inclui multas bilionárias e o cumprimento de penas por parte dos executivos, em troca da garantia de que a Odebrecht fique livre de novos processos e possa voltar a ser contratada por governos. Mas órgãos federais que fiscalizam o emprego do dinheiro público – a Advocacia-Geral da União, AGU, a Controladoria-Geral da União, CGU, e o Tribunal de Contas da União, TCU – não se consideram contemplados pelo acordo, e não descartam abrir novos processos contra a empresa. Com isso, a Odebrecht está com o crédito suspenso junto ao BNDES, não consegue atrair sócios e nem vender empresas do grupo. Nos bastidores, os executivos da empresa só se referem à presidente do banco de fomento, Maria Silvia Bastos Marques, como “aquela Maria Silvia”. Consideram que o banco é parte de uma estratégia do governo Temer para acabar com a Odebrecht, seja por vingança – já que seus principais integrantes foram implicados nas delações –, seja pelo medo de serem acusados de algum tipo de conluio com a empreiteira", diz a reportagem.

Ainda segundo a apuração, estão suspensos, hoje, os desembolsos do BNDES a dezesseis projetos da empreiteira fora do Brasil, espalhados pela África e pela América Latina. "São quase 9 bilhões de dólares em contratos fechados ao longo dos governos Lula e Dilma, agora em xeque. A própria Odebrecht afirma que tem 1,5 bilhão de reais retido no banco por serviços já prestados no exterior. O banco, por sua vez, agora só libera o dinheiro com a assinatura de um termo de compromisso que, entre outras coisas, ateste que contratos com os governos estrangeiros foram feitos de forma limpa. Não adiantou o procurador Deltan Dallagnol enviar cartas a todos os órgãos públicos atestando o fechamento do acordo com a empreiteira. Sem o tal termo, nada feito", diz a reportagem.

Hoje a Odebrecht tem apenas cinco obras no Brasil, das quais três – Aeroporto do Galeão, a Rota do Oeste e linha 6 do Metrô de São Paulo – dependem de financiamento do BNDES para serem concluídos. "Um quarto projeto, o corredor de BRT que a prefeitura do Rio começou a construir na Avenida Brasil, está parado. Só a obra do submarino brasileiro continua, e mesmo assim a passos de cágado. Os 170 mil funcionários de outrora estão reduzidos a cerca de 90 mil, dos quais 90% atuando fora do Brasil", diz o texto de Malu Gaspar.

Até o momento, as estimativas do volume de propina que a Odebrecht teria movimentado chegam a espantosos US$ 3,3 bilhões, só entre 2006 e 2014. Se este foi o valor pago pela empreiteira, segundo as investigações, imaginem o montante que deve representar as supostas vantagens obtidas pela empresa.

Vale lembrar que nada menos que setenta e sete de seus principais executivos fizeram delações premiadas. Ou seja, sete dezenas de empresários tinham conhecimento das supostas milionárias corrupções. Segundo as investigações, a empreiteira tinha o requinte de possuir um departamento exclusivo para a distribuição de propinas - um verdadeiro deboche com a população que hoje sofre com as consequências da crise. 

A disseminação da corrupção deixou o país destruído, com uma crise econômica sem precedentes, uma taxa de desemprego que atinge 23 milhões de pessoas e vários estados falidos. Se a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, está realmente jogando duro com a empreiteira, este pode ser considerado um gesto patriótico. Não se pode dar dinheiro público a uma empresa que destruiu o país.