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Responsabilidade na ONU

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Em sua reunião anual, a ser aberta na terça-feira, a Organização das Nações Unidas reservou à representação brasileira a tarefa de introduzir e encaminhar estudos e debates sobre dois temas para a política sanitária, que o país conhece bem: o lamentável progresso que vêm obtendo a tuberculose e as doenças não transmissíveis. Qualquer que seja o caso em tela, temos experiência, não propriamente por termos vencido seus desafios, porque tal não se deu; mas porque servimos de exemplo para o mundo saber que enfermidades tidas como totalmente vencidas podem recrudescer, não raro com acentuada gravidade. Não são poucos os casos em que certas doenças, tecnicamente debeladas, retornam e fazem vítimas. Também aí um exemplo que está na pele.

O Brasil tem, pois, um acervo de vivência, cujas causas devem ser adotadas aqui e em outros países que padecem do mesmo problema. E já terá contribuído muito se exportar, para alguns vizinhos, o que aprendeu no combate às doenças que estão despertando as atenções da ONU. Mostrar, mesmo o que sabemos e não fizemos. O resto das Américas também está longe de fazer, nesse particular, o dever de casa.

Há um detalhe que vale a pena expor no momento de assomarmos à maior tribuna do mundo. É que tais enfermidades certamente teriam se mantido em índices toleráveis, ou mesmo debeladas em definitivo, se as populações contassem com eficientes serviços de saneamento básico. A ausência deles é um vasto campo aberto a muitos males de consequências desastrosas. Uma antiga advertência, que é igualmente um apelo, lembra que a moeda consumida em obras saneadoras representa cinco moedas que se pode economizar nos gastos com a saúde.

Queixa-se dos reduzidos esforços empreendidos pelo governo brasileiro para tão vital setor, mas a realidade revela que não está sozinho nesse débito. Como se disse, os países do sul do continente também descuidam disso. Não por mera coincidência, estão ombreados nas estatísticas sobre a incidência de tragédias daí decorrentes.

Temos a tradição de oferecer o discurso inauguratório das Nações Unidas, o que é relevante, mas, sendo resultado de um protocolo, não será maior que a responsabilidade que nos cabe na proposta de algum avanço no combate às doenças indicadas como preferenciais para discussão internacional; com amplas e justificadas esperanças de que problemas dessa natureza possam ser removidos, a começar pela incidência da tuberculose, cuja presença é constrangedora em pleno século 21. Não há algo capaz de melhor interpretar nossos atrasos na saúde pública.

O presidente Temer viaja a Nova York para cumprir o rito da tradição, podendo ou não fazer referência direta às enfermidades sugeridas para ampla discussão, como também orientar seu discurso nos propósitos da paz mundial e maiores cuidados e respeitos com nações mais pobres. Mas, para melhor aproveitar os meses que lhe restam no poder, não desconhecendo que há muito que caminhar na guerra contra a tuberculose e doenças não transmissíveis, andaria bem se deixasse para seu sucessor, que em breve chegará, um conjunto de diretrizes e recursos orçamentários para enfrentar aqueles conhecidos males, que geralmente brotam das regiões menos assistidas do Norte e do Nordeste, mas rapidamente podem prosperar, exatamente nos pontos menos favorecidos pelo saneamento.

Dessa realidade os próximos governos não terão como escapar.

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