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'The New York Times': Legado Olímpico do Rio é uma série de promessas não cumpridas

Menos de seis meses após evento projetos estão abandonados

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O jornal norte-americano The New York Times traz em sua edição desta quinta-feira (16) um longo editorial sobre a situação atual das construções realizadas no Rio de janeiro para a Olimpíada 2016.

O texto comenta que não é raro que as Olimpíadas deixem algumas instalações desnecessárias. O Rio, no entanto, está experimentando algo excepcional: Menos de seis meses após o término dos Jogos Olímpicos, o legado da cidade anfitriã está em decadência.

De acordo com Times os edifícios olímpicos estão vazios, completamente diferente do período das competições no ano passado. No parque olímpico, algumas entradas do estádio estão bloqueadas, e os parafusos  jogados na terra. A arena de handball está trancada com barras de metal. O centro de transmissão permanece meio desmontado. A piscina está imunda e parece um poço de bichos, como o mosquito transmissor da zika, dengue e outras doenças.

Deodoro, um bairro na periferia do Rio, tem o segundo maior número de espaços olímpicos. O local do slalom que era para ser convertido em uma gigantesca piscina pública foi fechado ao público em dezembro. 

> > Legacy of Rio Olympics So FarIs Series of Unkept Promises

O estádio do Maracanã, onde se realizaram as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos do Rio, está agora em ruínas, com assentos rasgados e remendos no campo.

 "O governo colocou o doce na nossa boca e tirou antes que pudéssemos engolir", disse Luciana Oliveira Pimentel, uma assistente social de Deodoro, enquanto seus filhos brincavam em uma piscina de plástico. 

"Assim que os Jogos Olímpicos terminaram, eles viraram as costas para nós."

Oficiais olímpicos e organizadores locais as vezes se vangloriam sobre o legado dos Jogos - os benefícios residuais que a cidade e o país sede iriam experimentar muito tempo após o final das competições. Essas projeções, mesmo que  muitas vezes tenham sido cumpridas, são criticadas por economistas, que argumentam que as propostas olímpicas são apenas desperdício de dinheiro público. O Rio se tornou rapidamente o mais recente, e talvez o mais notável caso de promessas não cumpridas e abandono, destaca o New York Times.

"Está totalmente deserto", disse Vera Hickmann, 42, que esteve no Parque Olímpico recentemente com sua família. Ela lamentou que, embora a área estivesse aberta ao público, carecia de serviços básicos.

"Eu tive que trazer meu filho para as plantas para ir ao banheiro", disse ela.

Na aldeia dos atletas, do outro lado da rua do parque, as 31 torres deveriam ser vendidas como condomínios de luxo depois dos Jogos, mas menos de 10% das unidades foram vendidas. No Maracanã, o campo está marrom e a eletricidade foi desligada.

"O governo não tinha dinheiro para fazer uma festa como essa, e somos nós que temos que nos sacrificar", disse Hickmann, referindo-se aos contribuintes locais.

Nos preparativos para os Jogos, as autoridades da cidade do Rio prometeram "não vamos deixar elefantes brancos" e delineou planos para que as instalações fossem transformadas em áreas esportivas públicas e escolas, lembra o Times. A arena que hospedava o taekwondo e a esgrima devia ser transformada em uma escola. Duas outras arenas deveriam ser desmontadas, e uma colocada de volta como quatro escolas em outra área. Nada disso aconteceu.

O gabinete do prefeito disse que esses planos ainda estavam em andamento, mas não apresentou um cronograma específico, acrescenta o NYT.

A decadência dos locais olímpicos está acontecendo junto a uma crise financeira que envolve governos federais, estaduais e municipais.

O prefeito de Rio durante os Jogos, Eduardo Paes, esteve entre os mais fortes defensores do legado olímpico. Ele disse em um e-mail que era muito cedo para chamar qualquer um dos locais de elefantes brancos e que "o caminho para a implementação de um legado foi dado, informa o jornal norte-americano".

Depois dos Jogos, a cidade realizou um leilão para empresas privadas concorrem pela licitação da administração do Parque Olímpico, mas não havia licitantes. Isso deixou o Ministério do Esporte, um órgão do governo federal, com o encargo financeiro. O ministro do esporte, Leonardo Picciani, disse em uma entrevista que o objetivo era encontrar uma empresa privada para assumir o parque, mas não houve nenhum interesse, então passa a ser responsabilidade do governo manter os locais.

Um centro de transmissão de televisão no Parque Olímpico ainda precisa ser desmontado, quase seis meses após os Jogos terminarem. 

Picciani também disse que os estádios não se tornariam relíquias, apontando para vários eventos esportivos programados para este ano no Parque Olímpico, juntamente com programas de treinamento esportivo, de acordo com o New York Times.

Renato Cosentino, pesquisador do Instituto de Planejamento Regional e Urbano da Universidade Federal do Rio, que estuda a região do Parque Olímpico, disse que o parque "nasceu como um elefante branco", porque foi construído em um subúrbio rico que abriga apenas cerca de 5% dos 6,3 milhões de moradores do Rio de Janeiro.

Times reitera que os gigantes da construção Carvalho Hosken e Odebrecht assumiram o projeto da aldeia dos atletas na esperança de vender as acomodações como condomínios de luxo após os Jogos, bancando a área se tornando um bairro desejável para a elite da cidade.  Nas 31 torres de 17 andares que compõem a vila, apenas 20 unidades foram vendidas desde o início das Olimpíadas em agosto, elevando o total vendido para 260, de 3.604 apartamentos. 

O Maracanã, proeminente estádio de futebol do Rio onde ocorreu as cerimônias de abertura e encerramento, também caiu em ruínas, com um campo marrom, milhares de assentos furados e sem eletricidade. O consórcio que normalmente administra o estádio, afirma que a Rio 2016 e o governo do estado do Rio não honraram a parte do contrato que os obrigava manter o estádio e devolvê-lo no estado em que foi entregue. 

"Eles prometeram um terminal de ônibus e um novo espaço de lazer, mas nenhum deles chegou. O governo e os empresários nos enganaram", disse Camila Felix Muguet, 36, que perdeu parte de sua casa e seu quintal para o projeto . 

"Eles vieram, roubaram, e disseram adeus. Agora eles se foram, e onde estão nossas promessas? ".

"As Olimpíadas terminaram, Deodoro terminou", disse ela, balançando a cabeça. 

"Nós vamos ser esquecidos."