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Para desafogar o trânsito

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Com esse título a grande mídia publicava, no início do mês de janeiro, um artigo de raro bom senso, assinado pelo Sr André Luiz Campos de  Andrade, qualificado como economista e especialista em políticas públicas e gestão governamental, portanto, não necessariamente, “expert” em trânsito. Daí o maior valor de seu escrito. 

Analisa com absoluto bom senso as providências tomadas pelos responsáveis pelo trânsito do Rio, segundo ele denuncia em seu artigo, considerado o quarto pior do mundo em termos de mobilidade, segundo a empresa de navegação “Tom Tom”. Aqui, permitam-me tecer uma consideração filosófica, uma vez que a filosofia sempre deve preceder às soluções da ciência. A maioria dos que detêm o poder não conhece a definição correta do que seja mobilidade urbana e, por conseguinte, cometem aquele erro fundamental que eu sempre enfatizo: “Não me preocupam os que não veem a solução, e sim os que não veem o problema.” 

Infelizmente é o que nos vitima e nos faz termos um trânsito com uma mobilidade urbana muito inferior ao mínimo tolerável de 50%. Nos áureos tempos de meu saudoso amigo  Roberto Scaringella, quando na direção da CET-São Paulo, por ele fundada, era divulgado diariamente após o horário do “pico” matutino, o resultado do rendimento da malha viária paulistana. Nunca mais eu vi este detalhe. Para publica-lo é preciso saber calculá-lo.

Mas, continuando os comentários sobre o artigo em foco, o seu autor analisa o efeito pífio dos BRT e VLT sobre o uso do carro particular, citando, a meu ver, um percentual exagerado de 4% de decréscimo. Acredito que não chegue a 2%, por não satisfazer a preguiça e o desejo de conforto inerentes à pessoa humana que, segundo Henry Ford, valorizaram o seu produto quando popularizado em 1912, através a linha de montagem. Volto a afirmar: somente o metrô, por satisfazer aqueles citados sentimentos do ser humano, retiram carros das ruas.

Repetindo aqui uma verdade constante do artigo: “Apenas o gerenciamento da demanda das vias vem sendo apontado como uma das estratégias mais efetivas para uma mobilidade urbana eficiente  e sustentável.” E continua: “No ambiente do controle de demanda do tráfego, a implementação da 'taxa de congestionamento' deveria ser considerada pelo novo prefeito”. Refere-se, com esta sugestão, ao uso do pedágio urbano, considerado por mim socialmente injusto, pelo efeito diferente sobre as pessoas, conforme o seu poder aquisitivo, citando o que ocorre já em Londres e Milão. Sou contra por agredir o aspecto social, do qual o trânsito é, segundo a ONU, o terceiro problema do mundo. O que se deseja em última analise é diminuir o uso dos carros em demasia, para a oferta de vias trafegáveis. Portanto, um caso típico de se criar um sistema inteligente e socialmente justo do uso racionado das vias pelos usuários dos carros nas horas de “pico”. É o que se faz no uso da água quando a demanda é maior do que os recursos de fornecimento existentes. O sistema URV, Uso Racionado das Vias, cria um uso racionado que começa criando uma taxa de congestionamento altíssima para os carros trafegando com apenas o seu condutor. Cerca de 96%, aqui no Rio, e criando uma “taxa de uso racionado” de preço baixíssimo, mas capaz de reduzir a ocupação viária em até 80% de carros, mercê dos prêmios que se cria para incentivo de grupos maiores em carros  compartilhados, entre donos de carros. E o que é mais importante, a fim de atender ao aspecto social, capaz de criar uma renda que permitirá, sob subsídio, tornar gratuito o transporte de superfície sobre pneus. 

Concluindo, copiando o trecho final do artigo aqui analisado, com absoluta isenção de ser o dono da verdade, mas com a esperança de que os donos do poder desçam até a planície e venham discutir o assunto com a sofrida sociedade que os elegeu, em que somos obrigados a viver, fruto do desconhecimento que se deseja para se gerir o trânsito, a “super função urbana”, num país onde a grande maioria de sua população vive nas cidades. Escreveu o autor do artigo: ” O começo de um novo governo requer políticas inovadoras que promovam melhorias na vida do cidadão-eleitor. Apesar da taxa de congestionamento ainda não ser uma realidade no Brasil, a Política Nacional de Mobilidade Urbana já sinaliza medidas nesse sentido. É hora do Rio liderar essa iniciativa para desengarrafar o trânsito da cidade.”.

Infelizmente, porém, o especialista colombiano Dom Henrique Peñarosa diz o seguinte sobre a sua implantação: “A solução não depende dos técnicos, e sim dos políticos”. E, para tal, exige-se coragem política, a fim de mudar hábitos. E esta “pedra preciosa” é rara na “coroa” dos governantes.