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Sal e Luz

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A cada domingo, são muitos os temas com que a Palavra de Deus nos alimenta. No Evangelho do V Domingo do Tempo Comum (cf. Mt 5,13-16), escutamos a continuação do Sermão da Montanha e queremos salientar duas afirmações que são palavras importantes de Jesus, e que devem ressoar em nossas vidas como a grande novidade e uma importante missão: “Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo”! Com unção e humildade, como se escutássemos pela primeira vez, procuremos acolher com o coração aberto esse anúncio para encontrarmos a Vida e vivermos de verdade como discípulos missionários. O Senhor nos fala da nossa responsabilidade perante o mundo: Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo. E diz isso a cada um de nós, àqueles que queremos ser seus discípulos.  

O sal dá sabor aos alimentos, torna-os agradáveis, preserva da corrupção e tinha, no passado, uma conotação da sabedoria divina. No Antigo Testamento, prescrevia-se que tudo que se oferecesse a Deus devia estar condimentado com sal (cf. Lv 2, 13), para significar o desejo de que a oferenda fosse agradável. Vós sois o sal da terra! O sal, na Escritura, aparece como o elemento que dá sabor, purifica e conserva, tornando perenes e duradouros os alimentos… Daí a expressão “aliança de sal”, isto é, “uma aliança perene aos olhos do Senhor” (Nm 18,19). Por causa dessa pureza e perenidade, é que Israel deveria ajuntar o sal a toda oferta que fizesse ao Senhor Deus: “Salgarás toda a oblação que ofereceres, e não deixarás de pôr na tua oblação sal da aliança de teu Deus; a toda a oferenda juntarás uma oferenda de sal a teu Deus” (Lv 2,13). Vós sois o sal que dá sabor, pureza e conservação ao mundo diante de Deus! Sois a pitadinha de sal que torna o mundo uma oferenda agradável e aceitável ao Senhor! Sois tão pequenos, tão poucos, tão frágeis, tão impotentes, porém, tão necessários! Domingo passado, na Segunda Leitura fomos lembrados que “Entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres… Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que o mundo considera sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para, assim, mostrar a inutilidade do que é considerado importante… É graças a ele que vós sois em Cristo..” (1Cor 1,26-31). 

A luz é a primeira obra da criação (Gn 1, 15), e é o símbolo do Senhor, do Céu e da Vida. As trevas, pelo contrário, significam a morte, o inferno, a desordem e o mal. Vós sois a luz do mundo! – Que afirmação impressionante! Um só é a luz: Aquele que disse de si próprio: “Eu sou a luz do mundo”! (Jo 8,12). Como pode, então, dizer agora que nós somos luz? Escutemos: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”! (Jo 8,12). Eis: se em Cristo – e somente Nele – somos sal da aliança selada na cruz, também somente na sua luz, seguindo seus passos, tornamo-nos luz. É isso que nos afirma o Apóstolo: “Outrora éreis trevas! Agora, sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz”! (Ef 5,8). Por nós mesmos não somos sal, mas insípidos; por nós mesmos não somos luz, mas trevas tenebrosas! Mas, em Cristo, damos sabor ao mundo e somos reflexos da luz do Senhor! Não somos luz, mas iluminados pela luz de Cristo. Somente seremos luz se nos deixarmos iluminar pela luz fulgurante que brota da sua cruz! Que o cristão não busque outro sal ou outra luz, a não ser o Cristo, e Cristo na sua humildade, na sua pobreza, no seu serviço, na sua disponibilidade total em relação ao Pai: “Não julguei saber coisa alguma entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado”! Aquilo que passa da cruz do Senhor, que foge da cruz do Senhor, que procura outro caminho e outra lógica, que não a da cruz que conduz à ressurreição, não salga e não ilumina! Então, que brilhe a luz de Cristo em nossa vida e em nossas obras!

Os discípulos de Cristo são o sal da Terra: dão um sentido mais alto a todos os valores humanos, evitam a corrupção, trazem com as suas palavras a sabedoria aos homens. São também luz do mundo, que orienta e indica o caminho no meio da escuridão. Quando os cristãos vivem segundo a sua fé e têm um comportamento irrepreensível e simples, brilham como astros no mundo (Fil 2, 15), no meio do trabalho e dos seus afazeres, na sua vida normal. 

Peçamos ao Senhor a graça de sermos sal da terra e luz do mundo.  Com a luz de Cristo é que nós, cristãos, vivendo o nosso batismo, transmitiremos a luz de Cristo a todos. Onde está um cristão, aí está a luz de Cristo! Ali deverá estar aquele que dá sentido à vida das pessoas como o sal dá sabor aos alimentos. E sendo esse sinal, sabe que é apenas um servidor, pois tudo se faz referência a Cristo. Por isso somos chamados, a cada dia, a nos convertermos para que “vendo as boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus”.  

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ