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Capitão Zuck

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O tombo recorde da Facebook Inc. na Bolsa de Valores é produto da falta de confiança. As ações da empresa caíram quase 20% na última quinta-feira. Sendo a maior queda da história da NYSE. A empresa fechou o dia valendo US$ 120 bilhões a menos, o que representou uma queda de US$ 15 bilhões no patrimônio de Mark Zuckerberg.

Ainda é cedo para dizer o impacto do Trustgate nos demais integrantes dos FAANG (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google Alphabet), mas certamente todos precisarão, em algum momento, desatar o mesmo nó. O mercado inteiro precisa dos dados de seus usuários para gerar receita. Seja por ter que segmentar seus anúncios, para publicar o conteúdo que seus usuários desejam, ou, como acontece com a Amazon, para oferecer os produtos que um determinado cliente pode comprar. Sem segmentação, a loja de tudo, como gosta de chamá-la Jeff Bezos, seu CEO e fundador, não terá a mesma eficiência dada a quantidade colossal de produtos que vende.

Hoje, de acordo com a “The Economist”, somente 24% dos usuários acreditam que o Facebook fará o suficiente para proteger sua privacidade. Antes do escândalo da Cambridge Analytica eram 79%. Assim como fez o Brasil com a Lei Geral de Proteção de Dados, outros países deverão embarcar na onda europeia da GDPR e o assunto parece bem longe do fim. A nuvem escura no horizonte não deve ser a única tempestade pela qual Zuckerberg precisará passar. A supersegmentação que faz seus anúncios serem precisos é a mesma entrega para seus usuários em um volume enorme de “mais do mesmo”. Com o argumento de melhorar a experiência, a empresa tem deixado, cada vez mais, seus usuários isolados e presos, cada um em sua bolha. O paradoxo é acertar a segmentação dos anúncios, sem afetar a pluralidade do conteúdo que entrega em sua timeline. Nem sempre venta a favor no mar de dados e dinheiro por onde anda o navio do Capitão Zuck.

Voo de galinha?

O browser Opera, um sucesso quase vintage, que chegou a brigar entre os grandes nos anos 90, está volta à bolsa de valores. Criado por dois engenheiros da norueguesa Telenor ASA, Jon von Tetzchner e Geir Ivarsoy, a primeira grande versão do navegador para o Microsoft Windows foi o Opera 2.1, lançado em 1997.

A empresa sobreviveu ao estouro da bolha das pontocom, mas seu rumo mudou definitivamente no início dos anos 2000. Ivarsoy morreu em 2006 e von Tetzchner deixou a empresa em 2011. Ao longo desse período perdeu a batalha para o Netscape Navigator, que foi engolido pelo Internet Explorer, que sucumbiu diante do  Google Chrome. 

A Opera registrou um lucro líquido de US$ 6,6 milhões com uma receita de US$ 39,4 milhões, um aumento de cerca de 55% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Mais de 50% de sua receita vem de parcerias com a Yandex NV, da Alphabet, a dona do Google.

Apesar de ter uma dura briga pela frente e das chances de sucesso não serem muito claras, é justamente na conturbada relação de seu principal cliente com a privacidade que o navegador pode encontrar seu espaço. Resta saber se a empresa aproveitará o vácuo deixado no céu pelos grandes players atuais ou se dará mais um voo de galinha.

Descrença no diálogo

O Diretório de Análise de Políticas Públicas (DAPP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou um longo estudo sobre as redes sociais e eleições. As conclusões alertam para o risco da proliferação de posts vindos de bots, potencial aumento da discussão polarizada e, como consequências a descrença no diálogo no ambiente digital e no empobrecimento geral do debate, o que numa visão extrema poderia significar o enfraquecimento da democracia. O antídoto é o mesmo que esteve em nossas mãos mesmo em tempos analógicos: conhecimento e educação. A diferença é que nos tempos digitais eles estão mais disponíveis.