Melhor filme do Festival de Gramado, “Ferrugem”, de Aly Muritiba, expõe o desgaste dos comportamentos devido à ausência. O diretor, também autor do roteiro com Jessica Candal, conta em duas partes a história de Tati (Tiffanny Dopke), uma adolescente que compartilha sua vida em redes sociais e que, ao ser exposta num vídeo íntimo, é alvo do julgamento puritano, principalmente de jovens, que, como ela, vivem conectados.
O mundo adolescente é superexposto, através da tecnologia, por quem está no auge da insegurança, agravado pelo crescimento da misoginia. Renet (Giovanni de Lorenzi) é o personagem principal da segunda parte. O jovem se envolve com Tati, mas se fecha para ela quando as imagens eróticas da menina com um ex-namorado são espalhadas. Renet oscila entre a incomunicabilidade com o pai (Enrique Diaz) e o distanciamento da mãe (Clarissa Kiste). A ausência na observação do comportamento dos filhos é percebida também pela presença superficial dos pais de Tati, como se não fizessem parte do mundo dela, apesar de viverem na mesma casa.
A cenografia diz muita coisa através das paredes do banheiro feminino da escola da classe média. A humilhação já começa num ambiente frequentado por meninas que xingam outras e expõem nos azulejos o ato sexual como se fosse algo sujo. O som também exerce uma percepção do sofrimento de Tati. Quando a menina acuada pelos colegas censores passa pela multidão da escola, as vozes não definem o que se diz. É barulhenta como a burrice coletiva do cyberbullying, que não se importa com pessoas. Filme irmão do russo “Sem amor” (Loveless), “Ferrugem” é urgente para uma sociedade que esqueceu seus filhos.
*Membro da ACCRJ
FERRUGEM: **** (Bom)
Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom