No dia 27 de abril foi assinada a Declaração de Panmunjeon entre os líderes norte-coreano, Kim Jong-Un, e o sul-coreano, Moon Jae-In. Esperanças e suposições sobre o resultado do evento histórico foram manchetes nas redes midiáticas transnacionais. O interesse pela desnuclearização da península coreana e a busca da concretização de um acordo que pode dar fim à Guerra da Coreia são dois dos exemplos de promessas apresentadas na declaração. Em um dia repleto de formalidades, com cada movimento orquestrado nos mínimos detalhes, Kim Jong-Un e Moon Jae-In cruzaram as múltiplas fronteiras de mãos dadas e a esperança se tornou um símbolo desse momento.
A possibilidade da paz nas Coreias tem um simbolismo forte e só foi possível mediante diversos acontecimentos e pressões, por essa razão não podemos restringir esse feito somente aos dois líderes. Além disso, seria ingênuo acreditar que o processo de paz foi conduzido por “livre” e “espontânea vontade”, sem qualquer interferência de fatores externos que vem acontecendo no século 21 e, sobretudo, desde o governo de Donald Trump, que estimulam o processo de securitização da Coreia do Norte.
Podemos enumerar pelo menos três variáveis que contribuíram para a reunião entre as Coreias. A primeira destas variáveis deve-se às sanções econômicas e comerciais aplicadas pelo Conselho de Segurança da ONU desde o ano passado. A China, por exemplo, deixou de importar minerais do seu parceiro norte-coreano e interrompeu a exportação de eletrônicos e derivados de petróleo, o que fez com que a economia da Coreia do Norte sofresse consideravelmente, pois a China é seu principal parceiro comercial, receptor de 90% das exportações norte-coreanas. O segundo fator é o presidente sul-coreano Moon Jae-In. Em janeiro deste ano, Kim Jong-Un afirmou em seu primeiro discurso anual sobre a intenção da Coreia do Norte em participar das Olimpíadas de Inverno na cidade de Pyeongchang. Ao mesmo tempo em que a competição promoveu o debate entre os países, também serviu como uma estratégia de marketing da Coreia do Norte, que mostrou, ao participar do evento, a capacidade de “jogar” em conformidade com as regras internacionais. A Olimpíada não trouxe somente uma economia discursiva imagética esteticamente bonita (símbolo de união e paz), mas também ofereceu uma promessa de futuro.
O terceiro fator, mas não menos importante, foi o discurso recente de Kim Jong-Un a respeito do encerramento dos testes nucleares e de mísseis intercontinentais. O líder norte-coreano disse que teria comprovado a efetividade de seus mísseis e, por esse motivo, não precisava dar continuidade aos testes. Além disso, fontes sul-coreanas afirmaram que Kim Jong-Un planeja fechar instalações utilizadas para realização de testes nucleares, em Punggye-ri, ainda em maio deste ano. Atualmente, o que existem são projetos que estão um pouco mais próximos de se tornarem realidade. No entanto, não há previsões sobre quais serão os meios e o tempo para o desenvolvimento destes projetos. Ainda é muito prematuro atestar que os impasses referentes às situações na península coreana vão se desenvolver para um ideal de paz. Somente com a reunião entre Kim Jong-Un e Donald Trump, que está prevista para acontecer entre maio e julho deste ano, e com o cumprimento das negociações de um acordo para dar fim à Guerra da Coreia, feito de forma “quadrilateral”, que poderemos ter mais “certezas” sobre o que acontecerá com a península coreana.
Promessas não faltam e nem mesmo “boas intenções”, mas é preciso observar, e mesmo refletir, sobre o discurso prático e a prática dos discursos dos atores envolvidos. Pode ser que a reunião histórica entre as duas Coreias seja um primeiro passo para estimular e desencadear a concretização da paz na região, mas ainda precisamos ver se 2018 será um ano de promessas ou de realizações. Neste momento, podemos dizer que, por enquanto, a declaração permite iluminar e dar esperança do fim das noites mal dormidas dos líderes regionais e de suas populações no nordeste asiático.
* Doutoranda em Economia Política Internacional na UFRJ e ex-pesquisadora da Universidade de Osaka