BRASIL
A estratégia de Bolsonaro para se livrar da prisão e jogar golpe no colo de Heleno e Braga Netto
Por JORNAL DO BRASIL com Revista Fórum
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Publicado em 30/11/2024 às 08:12
Por Ivan Longo - Após falar em fugir para uma embaixada em caso de condenação pela tentativa de golpe de Estado no Brasil, Jair Bolsonaro já trabalha com mais uma estratégia para tentar se livrar de prisão: jogar a culpa em militares de alta patente que compunham o seu governo, entre eles o general Augusto Heleno (ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e general Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, além de candidato a vice de Bolsonaro nas eleições de 2022).
Trata-se de a tese de "golpe dentro do golpe", que consistiria em um plano golpista não só para impedir a posse de Lula após o pleito, mas para que os próprios militares assumissem o poder, em detrimento de Bolsonaro. A sinalização de que essa deve ser a estratégia foi dada por Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos advogados de Bolsonaro, em entrevista à GloboNews nesta sexta-feira (30).
Bueno usa como base nesta narrativa o "Punhal Verde e Amarelo", documento elaborado, segundo a Polícia Federal (PF), pelo general da reserva e ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, Mario Fernandes, que foi preso recentemente na operação "Contragolpe". O planejamento envolvia o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento previa, após deflagrado o golpe, a a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise que seria comandando por militares.
Heleno, segundo o planejamento, seria o chefe de tal gabinete. Braga Netto, por sua vez, seria o coordenador-geral, enquanto outros militares de alta patente, como o próprio Mario Fernandes, assumiriam outras funções de comando.
O fato de Jair Bolsonaro não ser mencionado no plano "Punhal Verde e Amarelo" é a base da estratégia a ser usada pela defesa do ex-presidente para jogar a culpa pela tentativa de golpe em Heleno e Braga Netto.
"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do 'Plano Punhal Verde e Amarelo', e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro", disse o advogado de Bolsonaro em entrevista à GloboNews.
"Não tem o nome dele [Bolsonaro] lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo", afirmou ainda.
Apesar da tentativa do advogado de Bolsonaro de imputar a culpa somente a Heleno e Braga Netto, a Polícia Federal, em seu relatório final sobre a investigação, aponta o ex-presidente como o principal líder da organização criminosa que tentou deflagrar um golpe no Brasil. Os investigadores afirmam, inclusive, que Bolsonaro tinha conhecimento do plano para assassinar autoridades.
Bolsonaro indiciado
O relatório final da Polícia Federal (PF), encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) propondo o indiciamento de Jair Bolsonaro e de outras 37 pessoas, traz com detalhes o envolvimento do ex-presidente na trama golpista.
A investigação da PF é taxativa no documento. "Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz trecho do relatório, sendo preservada aqui a grafia original.
O arcabouço probatório colhido pelos investigadores demonstra que o grupo investigado e liderado por Bolsonaro "criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019". O objetivo seria sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral para que dois objetivos fossem alcançados posteriormente: "primeiro, não ser interpretada como um possível ato casuístico em caso de derrota eleitoral e, segundo e mais relevante, ser utilizada como fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato".