Ronaldo Rogério de Freitas Mourão ASTRÔNOMO, AUTOR DE MAIS DE 85 LIVROS, DENTRE ELES: “DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE ASTRONOMIA E ASTRONÁUTICA”.
D urante mais de um século, a física quântica, que descreve o mundo do infinitamente pequeno, é regida pelo princípio da simetria, em virtude do qual cada partícula elementar possui um parceiro, chamado antipartícula. Do ponto de vista físico, a matéria deve ser tão simples como a antimatéria. O problema é que o universo que nos rodeia é constituído quase inteiramente de matéria.
O dia de 30 de março de 2010, quando os feixes de prótons entraram em colisão com uma energia de 7 TeV, (tera ou trilhões de elétron volts) foi o inicio de um dos mais promissores programas de pesquisa do LHC Large Hadron Colider (em português Grande Colisor de Hádrons).
Em todo o mundo, os físicos de partículas se preparam para uma colheita potencialmente rica de dados que marcaram o inicio de uma nova O LHC começou atingindo uma energia três vezes e meia superior à alcançada antes em outros aceleradores de partículas etapa da física. Com efeito, este resultado inicial é um grande sucesso; o LHC começou seu primeiro período de funcionamento atingindo uma energia três vezes e meia superior a anteriormente alcançada nos aceleradores de partículas.
Os físicos esperavam com grande ansiedade por esse momento há muito tempo, com paciência e perseverança. Mas valeu a pena. A partir deste recorde de energias de colisão, os experimentos do LHC serão capazes de solucionar uma série de questões ainda não respondidas, ampliando a área a ser explorada.
Novas questões surgiram.
Talvez possamos começar a compreender o que é a matéria e a energia escura, explicando as novas forças e novas dimensões e o bóson de Higgs – a partícula que recebeu o nome do professor escocês Peter Higgs, que há três décadas sugeriu que ela tornaria possível a conversão da matéria do Big Bang em galáxias, estrelas e planetas. Todas as tentativas anteriores fracassaram.
Um dos principais objetivos do LHC é tentar explicar a origem da massa das partículas elementares e encontrar outras dimensões do espaço, entre outras coisas. Uma dessas experiências envolve justamente o bóson de Higgs, chamada “partícula de Deus”. Caso a teoria dos campos de Higgs estiver correta, ela será descoberta pelo LHC. Procura-se também a existência da supersimetria. Os cientistas Walter Wagner e Luiz Sancho acreditam que o LHC podería provocar uma catástrofe de dimensões cósmicas, como um buraco negro que acabaria por destruir a Terra. Com essa finalidade, eles correram a um tribunal do Havaí, tentando Talvez possamos compreender o que é a matéria e a energia escura, e explicar as novas forças e novas dimensões impedir a experiência, até que houvesse uma total comprovação de que não existem riscos.
Apesar das alegações “catastróficas”, físicos teóricos de notável reputação como Stephen Hawking e Lisa Randall afirmam que tais teorias são meramente absurdas, e que as experiências foram meticulosamente estudadas e revisadas e estão sob controle.
Se um buraco negro fosse produzido dentro do LHC, ele teria um tamanho milhões de vezes menor que um grão de areia, e não viveria mais de 10-27 segundos (ou 0,00000000000000 00000000000001 segundo), pois por ser um buraco negro, emitiria radiação e se extinguiria.
No entanto, supondo que mesmo assim ele continuasse estável, continuaria sendo inofensivo. Esse buraco negro teria sido criado à velocidade da luz (300 mil km por segundo) e continuaria a passear neste ritmo se não desaparecesse.
Em menos de um segundo ele atravessaria as paredes do LHC e se afastaria em direção ao espaço. A única maneira de um buraco negro permanecer na Terra seria se a sua velocidade fosse reduzida a 15 km/s.
Todavia, supondo que isto viesse ocorrer, ele iria para o centro da Terra, em virtude da gravidade, mas continuaria não sendo ameaçador. Para representar perigo, seria preciso que ele adquirisse massa, mas com o tamanho de um próton, ele passaria pela Terra sem colidir com outra partícula (não parece, mas o mundo ultramicroscópico é quase todo formado por vazio), e ele só encontraria um próton para somar à sua massa a cada 30 minutos a 200 horas. Para chegar a ter 1 miligrama, seria preciso mais tempo do que a idade atual do universo.