Ricardo Cavaliere ganha concorrência de Maurício de Souza e é eleito imortal da ABL

Filólogo substitui a escritora Cleonice Berardinnelli, morta em janeiro aos 106 anos; imortal ocupará a cadeira número 8

Por GABRIEL MANSUR

Ricardo Cavaliere, imortal da ABL

O filólogo Ricardo Cavaliere, de 69 anos, ganhou a concorrência contra o quadrinista Mauricio de Sousa, de 87, e foi eleito, na tarde desta quinta-feira (27), para a vaga da cadeira número 8 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Cavaliere recebeu 32 votos, contra 8 do criador da Turma da Mônica, e substitui a escritora Cleonice Berardinnelli, morta em janeiro aos 106 anos como a integrante mais longeva da ABL. Um "imortal" votou em branco.

Cavaliere, aliás, havia se candidatado à cadeira antes de Sousa e já era tido internamente como o sucessor óbvio de Berardinnelli. Especialista em letras e linguística e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o estudioso já era próximo de membros da Academia. Ele trabalhou em seus estudos após o doutorado ao lado de Evanildo Bechara, imortal da ABL de 95 anos e referência absoluta nos estudos de gramática no país.

O fato é que, apesar de a ABL ter ampliado seu escopo, trazendo nomes cada vez mais populares para seu reduto no Petit Trianon, a instituição que elege os imortais da cultura nacional ainda é arraigada às tradições.

Cavaliere era visto como um substituto ideal para a cadeira número oito porque suas especialidades são semelhantes às de Berardinelli. Especialista em literatura portuguesa, ela foi uma das pioneiras no estudo de Fernando Pessoa. No caso, ambos são pesquisadores da língua portuguesa e garantem a vaga reservada para filólogos.

 

A disputa

A candidatura para a vaga foi marcada por uma polêmica do jornalista James Akel, que também tentava ocupar a cadeira com Mauricio de Sousa. Em entrevista à "Veja", James afirmou que "gibi não é literatura". Mauricio simplesmente riu quando questionado sobre o assunto. Contou como a internet reagiu em sua defesa, bem como fãs, colunistas, autores e jornalistas.

Concorriam, além de Mauricio, Cavaliere e Akel, os escritores Elois Angelos D’Arachosia e Joaquim Branco, além do advogado José Alberto Couto Maciel. Nenhum deles tinha chance real de ser eleito.

Pela segunda vez na história, os acadêmicos votaram em urnas eletrônicas, emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, para eleger o novo imortal. A primeira foi na semana passada, quando Heloísa Buarque de Hollanda foi escolhida para a vaga que era de Nélida Piñon.

 

Trajetória

Ricardo Cavaliere possui graduação em Letras (Português/Inglês) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1975); mestrado em Língua Portuguesa (Letras Vernáculas) pela UFRJ (1990; e doutorado em Língua Portuguesa (Letras Vernáculas), pela UFRJ (1997). Também possui graduação em Direito pela mesma universidade (1996).

O filólogo é membro da Academia Brasileira de Filologia, do Conselho Editorial da Editora Lexikon e da Editora Lucerna. Também é membro da Revista Todas as Letras e diretor da Revista Confluência. É autor de mais de uma centena de trabalhos acadêmicos em sua especialidade, entre eles:

 

  • Palavras denotativas e termos afins: uma visão argumentativa (2009);
  • Fonologia e morfologia na gramática científica brasileira (2000);
  • Pontos essenciais em fonética e fonologia (2005);
  • A gramática no Brasil: ideias, percursos e parâmetros (2014).

 

Atualmente, ele é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem. Dentre os prêmios obtidos, destacam-se a Medalha do Mérito Filológico da Academia Brasileira de Filologia (2018) e o Prêmio Celso Cunha da União Brasileira de Escritores (2015).

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