Crítica - ‘Ilusões perdidas’: boa adaptação de Balzac

Cotação: quatro estrelas

Por TOM LEÃO

O jovem poeta Lucien (Benjamin Voisin, à esquerda) vai do interior para Paris tentar carreira em jornalismo, mas encontra só falsidade, mentiras e decepções

Um dos maiores clássicos da literatura universal, ‘Ilusões perdidas’, de Honoré de Balzac, ganhou uma nova adaptação que dialoga com o presente, pelas mãos do cineasta francês Xavier Giannoli (‘Marguerite’). O filme fez sua estreia no Festival de Veneza, e desde então tem seguido uma carreira de sucesso, se tornando o grande vencedor do prêmio César deste ano, levando seis estatuetas. Entre elas: melhor filme, ator revelação (Benjamin Voisin), ator coadjuvante (Vincent Lacoste) e roteiro adaptado, além de concorrer em outras oito categorias. Depois do sucesso no Festival Varilux de Cinema Francês, o filme (cujo roteiro é mais focado na segunda parte do livro, que é bem longo) chega aos cinemas brasileiros.

Publicado originalmente em 1837, o romance de Balzac nunca perde sua atualidade, tratando da imprensa e da perda da ingenuidade de um jovem sonhador que se muda do interior da França para Paris. Lucien de Rubempré (Voisin) é um poeta que circulará pela sociedade local, conhecerá o dinheiro, as mulheres, até que seja corrompido, e suas ilusões desfeitas. Além de o filme adaptar mais a segunda metade do livro (para ganhar tempo), ele também sintetizou no personagem Nathan d´Anastazio (feito pelo diretor canadense Xavier Dolan), três personagens diferentes da obra: o escritor Daniel d´Arthez, o jornalista Raoul Nathan e o poeta Melchior de Canalis.

Giannoli assina o roteiro junto com Jacques Fieschi, e contou em entrevistas que conhece o romance desde a juventude, quando tinha mais ou menos a mesma idade que o personagem, e estudava Letras. Pouco depois, estava estudando cinema na Sorbonne, e começou a juntar um material sobre o livro. O cineasta explica que a ideia para fazer ‘Ilusões Perdidas’ foi também a de homenagear o ‘esplendor francês’ da época, seu espírito e sua linguagem peculiares.

Apesar das quase duas horas e meia (cuja narração constante ajuda a história a andar mais depressa), o filme flui rápido em sua narrativa e edição ligeiras. E mantém a plateia entretida, não apenas por sua trama e atuações e figurino (e belas mulheres desnudas), como também por sua comparação do jornalismo que se fazia e as similaridades com certa parte da imprensa dos dias atuais. Como as trocas de favores, notas plantadas, e a subserviência ao dinheiro e aos poderosos. Ao mesmo tempo, fascinante e repugnante, para quem gosta do assunto. Desde então, sabemos que tudo tem o seu preço.

 

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