ASSINE
search button

Goleiro Renan e sua mãe Edna: superação passada pelo DNA

Compartilhar

Fúlvio Melo, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - O ano era 1985. Como muitas nordestinas, Edna dos Santos, então com 19 anos, deixava a Bahia para tentar a sorte no Sudeste. Veio morar e trabalhar de doméstica em uma casa no Engenho de Dentro. Três anos depois, nascia Renan, com o mesmo nome da filho da patroa, que a mãe solteira batalhou para fazer crescer e aparecer até se transformar no goleiro titular do Botafogo este ano.

O pai sumiu depois que ele nasceu. Meu sonho era que Renan virasse capitão da Marinha. Mas quando vi que o futebol estava começando a ficar sério, lutei para que ele atingisse o sonho disse Edna.

Solitário, Renan desenvolveu uma introspecção e capacidade de concentração utilizada para superar críticas depois de falhas comuns na vida de um goleiro de 19 anos.

Situações com as quais a mãe aprende aos poucos como lidar. Ano passado, em jogo contra o campeão brasileiro São Paulo, Renan errou uma saída de bola que resultou em gol. O cartaz levado por Edna para incentivar o filho acabou cheio de lágrimas.

Todos ainda lembram dessa partida em que chorei. Hoje, lido melhor com isso. Mas sofro mais que ele garante a mãe.

A velocidade com que Renan digere as críticas é similar à rapidez de seu sucesso no futebol. No início dos anos 90, Renan, que então já tinha um padrasto e havia se mudado para Jacarepaguá, tomava um novo rumo na vida.

Ele pediu para entrar na escolinha. De lá foi levado para jogar no CFZ. Percebi que o futebol tinha ficado sério lembra.

Do time de Zico, ídolo maior do rival, o jogador despertou a cobiça dos olheiros. Márcio Lemos foi responsável por sua ida ao Botafogo. Começavam os treinos na longínqua Marechal Hermes, onde o jogador integraria o elenco juvenil.

Ele ia de camisa da escola para não pagar passagem. Sempre guardei um dinheiro para comprar as chuteiras mais resistentes e a calça de goleiro lembra Edna, que revela. Quando criança Renan era Flamengo.

Mas o vínculo com o time de infância terminou conforme o jogador conquistava espaço no Botafogo. Titular em pouco tempo, Renan disputaria uma partida que mudaria sua vida pelo Carioca de juniores. No Maracanã, numa preliminar em que o Botafogo venceu o Vasco por 1 a 0.

Renan pegou tudo. Chamou atenção da comissão técnica do Cuca e acabou indo para os profissionais frisou Luizinho Rangel, técnico dos juniores.

Renan fez sua estreia pelo Botafogo contra o Cabofriense no Carioca de 2008. Sua prova de fogo foram as finais do mesmo ano, quando mostrou segurança e que estava preparado para ser titular, posição da qual é dono desde outubro, quando o uruguaio Castillo se machucou.

Este ano vai ser diferente. Tenho certeza de que meu filho vai brilhar na final disse Edna.