Editorial, Jornal do Brasil
RIO - Os usuários de ônibus urbanos no Rio vão conviver, a partir de hoje, com os novos preços das passagens. O reajuste traz à tona a urgência de um amplo debate sobre a falta de qualidade na prestação de serviços de transporte de massa na cidade. Como acontece em qualquer metrópole, ônibus, trens, barcas e metrô têm um papel fundamental na vida de muitos cidadãos, e, por isso, precisam oferecer rapidez, conforto e segurança. Infelizmente, fatos retratados diariamente pela mídia atestam falhas graves nos transportes públicos do município.
O principal foco de problemas, no momento, tem sido o metrô. Por muitos anos considerado um serviço exemplar e comparado em qualidade aos que servem em países desenvolvidos, o meio de transporte passou a trilhar um caminho repleto de obstáculos. Desde o ano passado, a concessionária passou a figurar nas seções de cartas dos jornais com regularidade, sempre como alvo de críticas aos serviços que vêm prestando à população carioca. Desde o ano passado, a superlotação das composições tem sido campeã de protestos. A passagem não é barata, e os usuários reclamam, com razão, que merecem melhor tratamento. Agora, sob o calor do verão, os passageiros criticam a precariedade do sistema de refrigeração e quem já viajou num vagão lotado reconhece que a reclamação é justa. Ao usuário, pouco importa ouvir como resposta que a empresa que opera o serviço está aguardando novas composições, já compradas. Ele quer é ser respeitado como cliente, hoje e todos os dias.
Ao contrário do metrô, os trens jamais foram apontados como um bom exemplo. Muito pelo contrário, ali os problemas ocorrem todos os dias. Composições ultrapassadas servem a uma população já naturalmente sofrida, que viaja por longos trechos, provenientes de bairros e municípios distantes das áreas nobres da cidade. E a fiscalização precária do poder público não põe fim a falhas que perduram há décadas. As barcas que cruzam a Baía de Guanabara também têm despertado grande número de críticas de usuários, seja pelo valor da passagem ou por falhas que deixaram embarcações à deriva na travessia Rio Niterói.
E finalmente os ônibus, considerados por muitos os principais vilões do transporte público no Rio. As mesmas linhas que hoje tiveram suas passagens reajustadas são apontadas pelo Detran como campeãs de multas, além do envolvimento de seus veículos em número expressivo de acidentes de trânsito na cidade. Não haveria, aqui, espaço para listar todos os problemas apontados pelos usuários ou mesmo por motoristas de carros particulares, que muitas vezes se sentem ameaçados pelo comportamento agressivo dos condutores dos gigantes ao lado. O capricho no treinamento dos profissionais já seria um bom começo.
Em recente entrevista ao JB, o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, reconheceu as deficiências do setor, mas descartou punições imediatas às empresas concessionárias que não vêm prestando bons serviços à população. O secretário acredita que, alertadas em relação aos problemas, as empresas tendem a solucioná-los em curto espaço de tempo. Pode até ser, e torcemos todos para que isso aconteça. Mas se o otimismo da autoridade pública surgisse em companhia de uma boa multa, a chance de sucesso seria maior. Agora, é pagar para ver.