Alexandre Arrenius Elias, Jornal do Brasil
RIO - Anular o voto é chegar na urna eletrônica, você nem precisa perder mais tempo e sentar na cadeira, digite qualquer sequência de números que não exista candidato referente a ele, por exemplo: 00000, e depois tecle Confirma. Pronto! Voto anulado e muitas vezes, consciência mais
tranquila.
Mas como consciência mais tranquila depois de anular o voto? Eu terei como cobrar depois do candidato eleito?
Essa é uma reflexão medíocre que ainda leva milhões de brasileiros a abandonar a quase única forma legítima de protestar, de dizer: Nenhum candidato valeu o meu voto! .
Segundo a lei, você é obrigado a ir até o local de votação, e não a votar obrigatoriamente em alguém. É uma forma de induzir você a ter que escolher alguém. Mas o voto é secreto! Então podemos dar o destino que bem quisermos a ele.
Cuidado com aquela ideia de democracia atrasada (de países atrasados) de que você deve escolher o candidato menos ruim. Pense bem, se o candidato já é ruim, seja pouco ou muito, ele não é digno do voto de um eleitor consciente! Em países onde a democracia realmente fala mais alto, ninguém obriga a ninguém a sair de casa para votar. O candidato precisa convencer mais, melhor, e honestamente.
Se no Brasil o voto não fosse obrigatório, a massa falida não sairia em peso para votar, não sairia para fazer "porcarias" e estimular mais vagabundos a participarem da política nacional.
Nunca deveria ser considerada consciente a pessoa que coloca, e ainda depois aceita, tantas tranqueiras representando a nação.
A grande massa de eleitores no Brasil ainda é a do tipo tanto faz como tanto fez . A população menos esclarecida se deixa levar facilmente no oba-oba do marketing político nas vésperas das eleições.
Segue o candidato pela dentadura que ganhou dele, pelo transporte gratuito até o colégio eleitoral, mesmo encima da carroceria do caminhão, pela caixinha que recebeu como contribuição por escolher o melhor candidato.
Isso sem falar dos cabrestos e currais eleitorais descarados e garantidos com algo tipo: bolsa família, cesta básica gratuita , apoio moradia, apoio estudante, transporte etc.
Por que ensinar o que realmente é dignidade a uma maioria de eleitores semianalfabetos, se posso comprar a dignidade deles? Esse é o refrão dos bastidores e da essência pervertida da política brasileira. Uma espécie de imã que só atrai espíritos tacanhos para a política e espanta gente realmente comprometida, digna e honesta.
Se ir votar não fosse obrigatório, as pessoas que pertencem a essa massa perdida, movida a vento, que diz tanto faz como tanto fez , provavelmente fariam qualquer outra coisa ao invés de ir votar, por exemplo: fariam um churrasco, iriam pescar, visitar o compadre, assistir ao futebol, jogar baralho, assistir televisão etc. Claro que a Justiça Eleitoral precisa ser mais séria para não permitir que isso tudo também acabe financiado ou trocado por votos.
Aquela minoria mais crítica, de cérebros mais responsáveis pelo médio e longo prazo da dignidade cívica, sairia motivada de casa pela única e nobre razão: o candidato escolhido realmente vale o meu voto, livre e espontâneo.
A estratégia maquiavélica que a política brasileira aplica ao seu espírito democrático (que mais está para manipulação descarada) é grave. Limitam o discernimento político da sociedade através de uma educação que mais está para o entretenimento do que para o conhecimento produtivo.
Não é por acaso que retiraram O.S.P.B. da grade de disciplinas escolares, para quem se lembra, significa: Organização Social e Política Brasileira. Para quê forçar os neurônios dos queridos alunos, se entretê-los com assuntos menos exigentes os deixam mais alegres e motivados a estudar? . Várias escolas públicas (privadas não sei) só ainda não foram transformadas em circos por falta de picadeiros.
O voto nulo deve sim participar ativamente da expressão popular. No estado do Rio de Janeiro, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana, na última eleição para prefeito, dada a grande insatisfação da população, 89,23% dos votos foram conscientemente anulados!
Um exemplo que deveria se repetir em muitas localidades, até acordar as autoridades que o país não pode ser levado à base do tanto faz como tanto fez .
Não importa se é o João, o Zé, o Roberto ou o Frederico quem será o eleito, depois de eleito, seja lá quem for, terá obrigações a serem prestadas a todos os cidadãos, sem distinção.
Qualquer cidadão, mesmo aquele que anulou o seu voto, tem o direito de cobrar, protestar, denunciar e até contribuir para banir da vida pública o candidato ou o político ruim.
Ganhe quem ganhar, o voto nulo é uma opção consciente e válida. Anulando pelo menos você não contribui para a oportunidade de mais um lixo humano representar a população, pois este seria o último lugar que os ruins deveriam estar! Isso motivaria pessoas mais qualificadas moralmente a se interessarem pela política e carreira pública.
* Escritor, consultor e palestrante