A expectativa no Império Serrano para este ano é muito grande. A Verde e Branco de Madureira, na Zona Norte do Rio, abre os desfiles do grupo especial das escolas de samba. Até o ano passado lutou durante oito anos para vencer na Série A, o antigo grupo de acesso, e poder voltar à considerada elite do carnaval carioca. Conquistou o campeonato em 2017 com o enredo Meu quintal é maior do que o mundo, uma homenagem ao poeta cuiabano Manoel de Barros.
Agora, para se manter no grupo especial, a escola, que foi fundada por trabalhadores sindicalizados do porto do Rio, vai entrar na Marquês de Sapucaí com o enredo O Império do Samba na Rota da China, sobre as viagens de Marco Polo ao país asiático. Quem está à frente dos trabalhos do barracão na Cidade do Samba é o carnavalesco Fábio Ricardo.
Fabinho, como é conhecido, estava desde 2014 na escola de samba Grande Rio, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Quando foi contratado pelo Império, em março do ano passado, já tinha uma proposta de enredo, que foi aceito. “A escola me deu toda a autonomia para desenvolver o enredo. Como eu já tinha estudado sobre as viagens de Marco Polo, achei interessante contar a história do nosso enredo”, apontou, fazendo referência ao apoio da historiadora Helenise Guimarães nas pesquisas.
O carnavalesco e a professora descobriram que falar da China gera tanto assunto que daria para fazer até 25 enredos. “A gente optou por contar um pouco das coisas da China, mas fazendo o caminho que Marco Polo fez pelo caminho da seda. Através dele a gente vem falando da civilização que nasce no Rio Amarelo, passando pelas grandes dinastias, pelas religiões, das grandes invenções e o legado da China”, descreveu o carnavalesco.
“A gente vai embarcando nessa viagem, mas quem conta na verdade esta estória dessa grande viagem pela China é o Império Serrano. Esse grande Império que vai contar a história de um grande império”, observou Fabinho.
No fim do desfile, o percurso de Marco Polo termina com o retorno à escola de Madureira, quando ele se depara com a festa do carnaval, que, coincidentemente, é na mesma semana do Ano-Novo chinês, comemorado na sexta-feira, dia 16. “Ambas as culturas vão se encontrar, trocar informações e alegrias ao mesmo tempo. Foi uma feliz coincidência”, disse.
No texto de apresentação do enredo deste ano, o Império destaca a importância de voltar para casa e diz que “viajar é ótimo, mas retornar a Madureira é preciso!” E aponta que traz na bagagem “chá de modernidade, povo hospitaleiro e das crianças, o sorriso”.
A escola propõe também que imperianos e chineses festejem juntos o Ano-Novo daquele povo. Garante que a Serrinha – nome que identifica a agremiação e também o morro onde se originou – é aguerrida e vai entrar na avenida com esperança de um bom resultado na apuração.
Fábio Ricardo considera que é muita responsabilidade desenvolver o enredo para a escola que lutou tanto tempo para subir ao grupo especial, mas pondera que já enfrentou grandes desafios, como quando aceitou ser o carnavalesco da São Clemente quando a escola retornou à a elite do carnaval do Rio, em 2011.
“A gente trabalha bastante. O Império Serrano está se estruturando. Entrar na Cidade do Samba não é tão fácil por causa dos custos financeiros. Não é uma escola patrocinada, não tem um patrono. É uma escola que vive da verba que vem do carnaval e ainda teve estes problemas de verba [corte de 50% nos recursos fornecidos pela prefeitura do Rio]. Como atrasaram as verbas, acabou atrasando também o carnaval. Mas a gente corre contra o tempo”, indicou.
Fabinho acrescentou que a escola chegou a buscar patrocínio junto a empresas chinesas, no entanto, não obteve mais recursos com elas. “A minha China vai ser mais criativa do que luxuosa. Vou usar a criatividade dos chineses.”
A “vida de panda” de quem faz fantasias
No ateliê no barracão da escola, a modelista Sheila Conceição da Silva está dando um reforço nas fantasias. Ela trabalha também para a São Clemente, a Amarelo e Preto de Botafogo, e por isso tem muitos afazeres desde os primeiros preparativos para o carnaval. Depois que os carnavalescos fazem os desenhos das fantasias, é ela quem fica responsável por fazer o figurino de acordo com o previsto. “A gente começa lá em maio, fazendo os protótipos, e quando são aprovados a gente começa na reprodução e vai até o carnaval”.
Sheila está no trabalho de ateliê das escolas há 14 anos. Já passou por muitas agremiações, entre elas a União da Ilha do Governador. A costureira contou que no início, por ter que dedicar tanto tempo ao barracão, sem ter horário certo para estar em casa, o marido não aceitava muito.
“Agora ele já entende mais, porque de maio até agosto, todo dia estou em casa e calminha. Quando chega de setembro a novembro, já começo a me estressar. Janeiro ele nem me vê, em fevereiro a gente mal se cruza dentro de casa, porque tenho que me entregar mais ao carnaval do que à família”, contou Sheila. “É uma vida de panda”, disse, em alusão às olheiras e à falta de bronzeado na pele, que a deixam parecida com o urso.
A costureira disse que atualmente não desfila mais nas escolas em que trabalha e, por causa da emoção, prefere não acompanhar pela televisão. “Fico muito nervosa. Ano passado até viajei, mas quero que tudo dê certo para todas elas”, declarou.