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Genéricos podem piorar crises de enxaqueca

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Redação Terra, JB Online

RIO DE JANEIRO -

Estudo feito pelo neurologista Abouch Krymchantowski sugere que pessoas com enxaqueca podem apresentar um aumento da freqüência de crises, além de modificações nos efeitos colaterais, após a substituição do medicamento de marca pelo genérico.

Para chegar a essa conclusão, publicada na Revista Brasileira de Neurologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em agosto deste ano, o médico acompanhou um de seus pacientes e suas reações clínicas a duas versões do princípio ativo topiramato, a droga de marca e a genérica.

Para quem se adianta e acredita que a amostra pesquisada - um paciente apenas - é insuficiente para levantar polêmica e questionar a eficácia dos genéricos, o médico Abouch cita outros motivos que o levam a não receitar as versões de remédio mais baratas a seus pacientes.

- Eu não contra-indico genéricos apenas pelas evidências de um caso. Tomei essa atitude, porque a minha experiência diz que o remédio de marca funciona melhor. Além disso, a literatura médica internacional oferece um respaldo a esse meu achado com estudos semelhantes sobre epilepsia - explica o neurologista.

Segundo a assessoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o órgão garante a bioequivalência de todos os medicamentos genéricos vendidos no Brasil, que recebem o registro no Ministério da Saúde.

Ou seja, que essas versões apresentam as mesmas fórmulas e indicação terapêutica que seu equivalente de marca. Os médicos, porém, têm autonomia para prescrever o que quiserem.

O médico Abouch rebate e diz que não é a bioequivalência que está em discussão, mas sim o resultado provocado pelos genéricos.

- Não adianta só testar a semelhança dos medicamentos em laboratórios, é preciso acompanhar o que acontece depois nos pacientes. A bioequivalência não é o mesmo que eficácia idêntica - afirma.

De acordo com Deusvenir Carvalho, professor de Neurologia e chefe do setor de cefaléia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a metodologia da Anvisa para testar a bioequivalência não é totalmente segura.

- Não basta ser bioequivalente, há uma série de outras qualidades farmacológicas que são necessárias. As pesquisas feitas in vitro (no laboratório) precisariam ser estendidas com maior rigor a outros aspectos das drogas - esclarece o professor, destacando a importância do acompanhamento clínico de cada caso.

E mesmo se fosse necessário somente o perfil bioquevalente dos medicamentos, esse quesito já abriria margem para discussões. Segundo Carvalho, legalmente é exigida uma bioequivalência entre 80% e 125%.

- Essa janela pode fazer a diferença, principalmente em casos de doenças crônicas, que exigem um desempenho constante do medicamento -afirma, se referindo a trocas de remédios durante um tratamento.

A polêmica é levantada no próprio site da Anvisa, onde está registrado que: "a bioequivalência, na grande maioria dos casos, assegura que o medicamento genérico é equivalente terapêutico do medicamento de referência, ou seja, que apresenta a mesma eficácia clínica e a mesma segurança em relação ao mesmo".

O fato é que a "grande maioria dos casos" não engloba todos os casos.

O professor Deusvenir, da Unifesp, reconhece que os genéricos trazem um grande benefício para o bolso da população. No entanto, pensando unicamente no aspecto da saúde, ele valoriza o remédio de marca.

- Como médico, você oferece a melhor opção ao paciente, que é o medicamento que passou por diversas pesquisas e tem sua eficácia testada e comprovada. Mas isso, às vezes, esbarra em um problema de custo. Por isso, cabe ao profissional indicar uma alternativa que atenda de todas as formas aquele paciente - explica.

Procurada pela reportagem do Terra, a Pró Genéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos) disse, por meio de sua assessoria, que vai se posicionar somente quando conseguir analisar o artigo do neurologista Abouch Krymchantowski.

Nenhum representante da Associação se pronunciou sobre a eficácia e segurança dos remédios que representam.