Cecilia Minner, Jornal do Brasil
RIO - Alexsandra Santos de Oliveira e Alexandre Maciel, ambos de 34 anos, viraram notícias dos jornais depois do nascimento do terceiro filho do casal negro: um menino branco de olhos azuis. Embora o caso ainda não tenha sido totalmente confirmado, especialistas em genética afirmam que é possível gerar descendentes de raças diferentes, mesmo quando os pais têm a mesma cor.
A população brasileira é miscigenada, de modo que não dá para prever quais os componentes da bagagem genética, se é européia, africana ou nativa. Além disso, a pigmentação, cor dos pêlos, olhos e pele, é uma característica multigenética, envolve mais de cinco genes. O processo de combinação é complexo, então não dá para prever o que resultará explica Rodrigo de Moura, professor de genética do Instituto de Biologia da Univesidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ).
Moura afirmou ainda que um filho branco de pais negros é fruto de uma combinação genética excepcional. Uma pessoa com uma combinação de genes especial encontra, por coincidência, um parceiro com a mesma característica. Essa combinação genética do casal provoca uma alteração no processo de pigmentação.
Para ter olho escuro, a pessoa pode ter AA, ou Aa. A mãe que tem olho escuro, pode ser Aa e o pai também. Porém, se na hora da combinação genética, os dois cederem ao bebê, o a (minúsculo), a criança pode nascer com olhos claros, mesmo sendo filha de pais de olhos escuros. Mas se caso um dos dois cederem o A, os olhos do bebê serão escuros explicou José Luiz Rosa de Medeiros, diretor do Hospital Azevedo Lima, de Niterói, onde Gabriel nasceu.
A dúvida por parte dos pais de Gabriel de que o filho teria sido trocado na maternidade foi tirada, na quarta-feira, quando o resultado do teste de DNA comprovou a maternidade do bebê.
Medeiros diz que mesmo antes do resultado do exame, ele já acreditava que o filho poderia ser do casal:
A mãe de Alexsandra tem pele clara e o seu bisavô tinha olhos azuis, então é viável ela ter um filho com essas características informou. Esse não é um caso raro, pode acontecer um em cada 10 eventos.
A mãe de Gabriel, que já teve outros dois filhos com Alexandre, ambos negros, confessou que ficou surpresa quando viu o filho, embora em sua família tenha casos semelhantes:
Minha sobrinha, filha de pais negros, nasceu loira, com olhos claros e cabelo liso. Quando foi ficando mais velha, o cabelo escureceu e ficou encaracolado conta Alexsandra.
Segundo Medeiros, é bem provável que Gabriel já tenha adquirido uma pigmentação de pele mais escura do que quando deixou o hospital. Mas isso não quer dizer que o bebê não possa continuar para o resto da vida com pele branca.
O teste de DNA que possui 100% de eficácia indica que Gabriel seja resultado de combinação genética especial. No entanto, o pai da criança não se submeteu ao exame por falta de vontade. Logo, o caso ainda não pode ser visto como um fato totalmente comprovado.