Jornal do Brasil
NOVA YORK - Injeções de toxina botulínica, o complexo protéico mais conhecido pela marca americana Botox, não é utilizado apenas como suavizador das linhas de expressão. Segundo matéria publicada nesta quarta-feira pelo jornal New York Times, além de seus benefícios estéticos, o Botox pode ajudar pacientes que sofrem de distonia (alteração da tonicidade muscular) a reduzir contrações musculares involuntárias, controlar o fluxo do suor exacerbado e reverter a atrofia muscular de pacientes que sofreram derrame.
Sua utilização no tratamento das sequelas musculares do derrame é tão reconhecido nos EUA que até o sistema de seguro de saúde financiado pelo governo americano reembolsa pacientes que são submetidos às injeções.
Contudo, de acordo com David Simpson, professor de neurologia do Centro Médico Mount Sinai, em Nova York, um dos maiores pesquisadores da toxina botulínica, apenas cerca de 5% dos pacientes de derrame que poderiam se beneficiar do tratamento recebem-na.
Frequentemente, disse Simpson ao New York Times, médicos que fornecem tratamento ambulatorial ou em centros geriátricos não sabem desse benefício do Botox, e poucos são treinados para administrar as injeções, que precisam penetrar muito mais fundo que as injeções dermatológicas. A maioria dos neurologistas estão acostumados a receitar remédios antiespasmódicos orais, que causam sonolência e enfraquecem todos os músculos, não somente aqueles atrofiados.
A engenheira Francine Corso, de 66 anos, nunca havia ouvido falar do tratamento durante consultas com seu primeiro neurologista, que apelidou de doutor das más notícias , porque ele costumava dizer que ela morreria em breve e que nunca mais conseguiria caminhar. Francine descobriu o tratamento com Botox assistindo televisão. Foi quando decidiu procurar um médico do Hospital Mount Sinai.
Limitações
Apesar das propriedades surpreendentes, a botulina é incapaz de restaurar o uso dos músculos quando o derrame destrói a região do cérebro que os controla. Ainda assim, pacientes se sentem melhor e relatam que as injeções facilitam atividades cotidianas como se vestir, segurar objetos e tomar banho.
Em entrevista ao New York Times, Mark Hallet, chefe do setor de coordenação motora do Instituto de Distúrbios Neurológicos e Derrame, afirmou que utiliza tanto a eletromiografia recurso que mede as correntes elétricas de músculos em repouso como a ultrasonografia quando injeta a toxina botulínica em seus pacientes.
Segundo Hallet, alguns especialistas consideram satisfatório atingir a região próxima do músculo, mas ele discorda. Fazer a injeção penetrar o músculo atrofiado é essencial para ele.
A experiência de Francine sustenta a opinião de Hallet. Durante algum tempo, ela frequentou uma clínica neurológica próxima de sua casa, onde os médicos injetavam a toxina sem utilizar a eletromiografia. O tratamento certamente não funcionou tão bem, disse ela.