Jornal do Brasil
DA REDAÇÃO - A produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia, uma antiga potência na época da União Soviética. Além disso, a ciência brasileira caminha para superar da Índia e se consolidar como a segunda maior entre os países emergente denominados Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). As informações constam de relatório divulgado pela Thomson Reuters esta semana.
Outra grande constatação do estudo é relacionada à China. Nas últimas três décadas, segundo a Thomson Reuters, nenhum país apresentou um crescimento da produção científica tão grande quanto a China. Se mantiver este ritmo, em dez anos a China ultrapassará os Estados Unidos e será a maior potência científica do mundo.
O levantamento da Thomson Reuters acompanhou a produção científica nos quatro países com base na análise das 10.500 principais revistas científicas do mundo.
Segundo a pesquisa, a produção brasileira avançou de 3.665 para 30.021 artigos científicos publicados entre 1990 e 2008. No mesmo período, a produção russa manteve-se estável. O número de 1990, de 27.603 artigos, é praticamente o mesmo que o de 2008, que foi de 27.605 artigos.
A produção científica da Índia, que em 1990 contabilizava 13.984 artigos publicados, chegou a 38.366 artigos em 2008. Se o índice de aumento da produção científica dos países se mantiver, o Brasil deverá ultrapassar a Índia nos próximos anos.
O levantamento indica ainda que a produção científica chinesa, que em 1990 ainda estava atrás da russa e da indiana, com 8.581 artigos, chegou a 2008 com 112.318 artigos, numa expansão que, se mantida, verá a China ultrapassar os Estados Unidos e se tornar líder mundial em produção científica até 2020.
A revisão dos dados levou a uma considerável elevação do número de artigos científicos de China, Brasil e Índia. Porém essas elevações refletiram tendências já evidentes nas estatísticas, em vez de mudar a trajetória geral disse Jonathan Adams, em entrevista à BBC Brasil.
Segundo ele, os dados dos últimos anos já indicavam que a produção brasileira superaria a russa, o que ficou expresso nos números de 2008, mas ele observa que, se a base de análise já tivesse sido revista antes, isso já teria sido detectado.
De acordo com os últimos dados compilados, de 2008, a produção científica brasileira naquele ano representou 2,6% do total de 1.136.676 artigos publicados em todas as 10.500 revistas analisadas. Em 1990, o Brasil tinha apenas 0,6% da produção mundial.
A produção científica americana 332.916 artigos em 2008 ainda representa 29% de todos os artigos publicados no mundo, enquanto a chinesa é de 9,9%. Em 1990, porém, os Estados Unidos tinham 38% de toda a produção científica mundial, enquanto a China respondia por apenas 1,4% do total.
No mesmo período, a produção russa, que já foi considerada uma das mais avançadas do mundo, passou de 4,7% do total em 1990 para apenas 2,4% em 2008.
Em sua análise, a Thomson Reuters observa que os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Brasil chegaram em 2007 a quase 1% do PIB, proporção inferior aos cerca de 2% gastos nos Estados Unidos e na média dos países desenvolvidos, mas ainda bem acima de outros países latino-americanos.
Segundo o levantamento, o Brasil tem 0,92 pesquisador para cada mil trabalhadores - bem abaixo da média de 6 a 8 pesquisadores por mil trabalhadores dos países do G7, o grupo das nações mais industrializadas do planeta.
O levantamento indica ainda que a produção científica do país é mais forte em áreas como pesquisas agrícolas e ciências naturais.
De acordo com James Wilsdon, diretor de ciências políticas na Royal Society, em Londres, três fatores principais estão impulsionando a pesquisa chinesa. Primeiro, o enorme investimento do governo, com aumentos de financiamento. Em segundo lugar, o fluxo organizado de conhecimentos de ciência básica para aplicações comerciais. O terceiro é a maneira eficiente e flexível como a China está aproveitando o conhecimento da sua vasta diáspora científica na América do Norte e Europa, seduzindo cientistas em meio de carreira a voltar ao país com propostas que lhes permitam passar parte do ano trabalhando no Ocidente e outra parte na China.