Um estudo franco-canadense publicado na última semana que determinados remédios soníferos e tranquilizantes, quando utilizados por muito tempo, podem acabar aumentando os riscos dos pacientes desenvolverem o mal de Alzheimer. O estudo, que durou seis anos, surge justamente no mês de conscientização da doença – no dia 21 de setembro é a data mundial de alerta para o Alzheimer.
Os resultados foram publicados no “Britich Medical Journal” e o estudo comparou informações de 1.796 portadores do Alzheimer com dados de 7 mil pessoas da mesma idade e sexo, mas que não eram portadores da doença. Os pacientes de Alzheimer faziam parte de um programa de assistência médica do Canadá. Os resultados concluíram que utilizar benzodiazepinas por períodos de tempo superiores a três meses pode aumentar em até 51% o risco de vir a desenvolver a doença.
As benzodiazepinas são um grupo de medicamentos ansiolíticos – drogas usadas para diminuir a ansiedade e a tensão – aplicados, entre outras funções, como sedativos e relaxantes musculares. Nos países desenvolvidos, o consumo desse tipo de medicamento é muito comum no tratamento de doenças relacionadas ao sistema nervoso central como ansiedade e insônia. Alguns dos exemplos de medicamentos mais comuns nessa categoria são remédios como o Rivotril, Diazepam e Lexotam.
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa vinham de locais como a Universidade de Montreal e do francês Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM). Segundo eles, os resultados encontrados reforçaram a suspeita de que houvesse um vínculo direto entre o consumo e a doença. No relatório, os pesquisadores afirmam que “o desnecessário uso prolongado destes remédios deveria ser considerado uma preocupação para a saúde pública”.
O problema no uso das benzodiazepinas estaria justamente no consumo durante mais tempo do que o recomendado por especialistas. Os medicamentos são considerados ferramentas preciosas para tratar ansiedade e insônia temporárias, mas não podem durar muito tempo. “As benzodiazepinas constituem incontestavelmente ferramentas preciosas para tratar ansiedade e insônia temporárias, mas os tratamentos devem ser de curta duração e não superar os três meses”, afirmava o estudo.
A relação entre as benzodiazepinas e o Alzheimer aparece também porque as substâncias são utilizadas no tratamento da falta de sono e da ansiedade, que são justamente sintomas comuns durante o período que costuma anteceder o diagnóstico de Alzheimer. Ou seja, além de poder desenvolver o Alzheimer, a droga é aplicada para aliviar os seus próprios sintomas iniciais - o que também poderia explicar a associação estatística. "As nossas descobertas são da maior importância para a saúde pública e necessitam de mais investigação", disse a equipe responsável pela pesquisa.
Medicamentos para tratar quadros de ansiedade
Diversos países advertem através de seus órgãos de saúde para que haja um controle maior no consumo das benzodiazepinas. Só na França, de acordo com a agência francesa de segurança de medicamentos (ANSM), 11,5 milhões de utilizaram benzodiazepinas pelo menos uma vez em 2012. A média da idade dos consumidores era 56 anos e quase dois terço dos consumidores eram mulheres – entra elas, um terço estava acima dos 65 anos.
O Brasil possui também forte relação com remédios utilizados no tratamento dos distúrbios da ansiedade. No período de 2007 a 2010, por exemplo, os ansiolíticos Clonazepam, Bromazepan e Alprazolam foram as substâncias controladas mais consumidas pela população brasileira.
*Do programa de estágio JB