As cirurgias para retirada das amígdalas, ou tonsilas palatinas, sempre causaram polêmica na medicina. Nos anos 60, por exemplo, o aumento da extração desses tecidos linfoides originou-se de vários mitos e virou “moda”, sendo muitas vezes realizada sem uma necessidade clara e em condições precárias (com a criança acordada e no colo dos pais).
Na década de 80, a retirada das amígdalas passou a ser condenada por fazerem parte do sistema de defesa do organismo, funcionando como um tipo de estopim que dispararia a produção de células de defesa e anticorpos. Mas, e hoje em dia, a retirada das amígdalas vale a pena? Quando a cirurgia deve ser indicada? Há restrição de idade?
De acordo com o otorrinolaringologista Édio Cavallaro, do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, a remoção das amígdalas atualmente está indicada apenas em casos selecionados.
“Hoje, uma das principais indicações em adultos são os casos de amigdalites bacterianas de repetição. Se a pessoa tem de três a cinco ocorrências por ano nos últimos anos, com febre alta e dor que só regridem com antibióticos, o procedimento está indicado. Nos casos de infecções com características virais (faringites virais), a cirurgia geralmente não é uma solução”, afirma, explicando ainda que quando muito grandes, as amígdalas podem causar distúrbios do sono em crianças e adultos. “Crianças que não têm sono normal podem ter prejuízo no crescimento. Isso porque o hormônio que faz crescer é produzido durante o sono profundo. Para a criança que não dorme bem, pode haver diminuição da produção deste hormônio e déficit de crescimento. Uma das causas deste distúrbio do sono pode ser o crescimento exagerado (hipertrofia) das amígdalas e adenoides. Neste caso a cirurgia também está indicada, com muitas evidências de benefício” diz o especialista.
Retirada pode ser a solução dos problemas
A operação de retirada das amígdalas de Penélope Barbosa Dias, 7 anos, já está marcada para julho. Há dois meses a família observou que a criança reclamava com frequência de dores de garganta e decidiu levá-la ao médico. “As amígdalas dela são muito crescidas, uma quase encontra a outra. Por isso recorremos ao médico para avaliação e descobrimos que a cirurgia é a solução. Por isso decidimos por operá-la nas próximas férias”, conta a mãe, Tereza Dias. Outro caso é da empresária Gabriela Gonçalves, 22,que ficava com a garganta inflamada com muita frequência, o que só era resolvido com antibióticos. Mas, logo depois o problema voltava.“Por isso decidimos pela cirurgia e agora estou recuperada e as dores não voltaram a aparecer. O problema foi resolvido” afirmou Gabriela.
Prós e contras
De acordo com Édio Cavallaro, a cirurgia para retirada das amígdalas não causa nenhum prejuízo à imunidade do paciente. “Existe um mito de que a operação diminui a imunidade do paciente, mas não é verdade. Existem estudos que revelam que retirá-las não afeta a capacidade de defesa do paciente e nem o prejudica de nenhuma forma” diz o especialista. Mesmo assim, segundo ele, nem sempre a cirurgia deve ser indicada. “Em casos em que as infecções não sejam frequentes ou quando estas tem outras causas que não sejam bacterianas, optamos por não operar. Mas se for algo que atrapalhe muito, como o caso de obstrução das vias aéreas em crianças, prejudicando a respiração e o sono, a cirurgia é feita”, finaliza Cavallaro.
Principais indicações de cirurgia:
Amigdalites bacterianas de repetição, geralmente mais que 3 a 5 por ano nos últimos anos, com dor importante e febre, que precisem de antibióticos frequentemente para tratamento.
Crianças que roncam, dormem mal com sono inquieto, que têm amígdalas e adenoides grandes. A cirurgia melhora o sono, a respiração e o crescimento.
Algumas indicações mais específicas e curiosas:
Pacientes com Nefropatia por IgA ou doença de Berger, que causa distúrbios renais importantes por acúmulo indesejado de imunoglobulinas A (IgA) no “filtro” (glomérulos) dos rins, têm apresentado importante melhora clínica após a remoção das tonsilas. A presença desta doença está entre as indicações da cirurgia atualmente.
A Síndrome PFAPA caracterizada por febre, adenites (gânglios inflamados) e aftas recorrentes também tem seus sintomas muito reduzidos após a retirada das tonsilas, estando também a cirurgia indicada nesta situação.