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Psicóloga explica como lidar com o vício em jogos

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Todos os comportamentos compulsivos têm pelo menos uma coisa em comum, quer seja o álcool, a heroína, a nicotina ou o jogo. A "droga" é consumida compulsivamente e a perda de controle vai crescendo progressivamente. A personagem Silvana (Lilian Cabral) da novela das 21h, da TV Globo, ‘A Força do Querer’ se enquadra neste padrão.

É viciada em jogo e não se dá conta. Mente, perde quantias volumosas e se tortura com a situação, não conseguindo mais se controlar frente ao objeto do vício (em seu caso as cartas, roletas e jogos de azar) e tornando um hobby divertido em uma trágica compulsão.

“É comum que a pessoa que desenvolveu o vício tenha dificuldade ou resistência para admitir ou perceber que se encontra viciada. Neste caso, as pessoas ao seu redor irão perceber mudanças de comportamento e dependendo da natureza do vício, pode haver isolamento social e surgimento de dependência, que pode ser em álcool, drogas, jogos, compras etc”, comenta a psicóloga Edyclaudia Gomes de Sousa, Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, que também afirma que essas pessoas sofrem mais de taquicardia e angina do que a população geral.

O vício prejudica as relações familiares, colocando em risco o patrimônio pessoal e familiar. Diversas pessoas que sofrem com o vício em jogos perdem carros e imóveis, gastando tudo o que tem, gerando dívidas e infinitos problemas. “As relações familiares são afetadas duramente, não há mais confiança, e o convívio se torna difícil. Nesse caso, é preciso procurar ajuda psicológica para tratar e superar o problema”, explica a especialista.

Para ajudar alguém que esteja sofrendo com esse tipo de vicio, é necessário um diálogo firme que esclareça e mostre os prejuízos que esse comportamento está causando. “Parentes e amigos podem ajudar de diversas formas. Conversando, acolhendo, oferecendo apoio. É importante também acompanhar a pessoa em seu tratamento, sem julgar ou criticar, procurando entender que o vício é uma doença e deve ser tratada de forma adequada. Uma vez instalado, não é fácil se livrar do vício em jogos (assim como qualquer outro tipo de vício), dessa forma se faz fundamental o envolvimento de psicólogos e psiquiatras no controle desta compulsão”, enfatiza Edyclaudia.

Independente de qual seja o vício, as consequências são enormes e acabam prejudicando a saúde pessoal e os relacionamentos familiares. A qualidade de vida é comprometida, fazendo com que as pessoas adoeçam e se tornem agressivas e abusivas, afetando também, sua vida profissional.  “O vício atinge de forma negativa a vida como um todo e desenvolve mecanismos de dependência e codependência que afetam a todos”.

Abaixo, Edyclaudia Gomes de Sousa esclarece dúvidas frequentes sobre o vício em jogos.

Quando o hábito de jogar passa a ser considerado vício?

Em diversas culturas, pessoas apostam em jogos e eventos, a maioria o faz sem experimentar problemas. Contudo, algumas pessoas desenvolvem comprometimento considerável em relação ao jogo, como: prejudicou ou perdeu um relacionamento, emprego ou uma oportunidade profissional / educacional em razão do jogo, além de várias mudanças em sua vida aumentando gradativamente com o tempo. Para se considerar Transtorno do Jogo, onde se encontra classificado no DSM V Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, essas ocorrências tem que estar presente por pelo menos 12 meses.

Como se inicia o processo do vício em jogo?

O inicio do transtorno do jogo, pode ocorrer durante a adolescência ou no início da idade adulta ou ate mesmo na meia idade. A progressão parece ser mais rápida em pessoas do sexo feminino, porém quem começa mais cedo são os homens.

Quais são as causas que levam ao vício?

Pode ser hereditária (genética), pessoas com transtornos como o bipolar, de ansiedade e outros tipos de transtornos mentais apresentam compulsão por jogos, compras, etc. O estilo de vida da pessoa também é um fator importante, caso ela cause um alto nível de estresse e irritabilidade, é comum que essa pessoa buque no jogo uma forma de relaxar e aliviar a mente, se afastando de dos problemas da vida.

Dizem que todos em volta percebem o vício menos a pessoa. Quais são os sintomas apresentados?

Mentiras constantes para os seus familiares, terapeuta e amigos, a fim de esconder seu comprometimento com o jogo e ate para solicitar ajuda financeira para continuar, chamado de "resgate financeiro". Podem desenvolver um comportamento ilícito como, falsificação, fraude, roubo ou estelionato para obtenção de dinheiro para o jogo. Se observa uma distorção do pensamento nessas pessoas, por exemplo, negação, superstições, sentimentos de poder e excesso de confiança. Algumas pessoas se tornam deprimidas e solitárias, e chegam a ter ideações suicidas, enquanto outras são impulsivas, competitivas e cheias de energia.

Atualmente, com a internet, é mais comum as pessoas se viciarem em jogos?

Vivemos em um mundo virtual onde todos estão conectados o tempo todo. A internet oferece uma ampla lista de jogos, desde os mais fáceis até alguns mais difíceis, mas todos igualmente viciantes. Por esse motivo, há tantas crianças e adolescentes que não conseguem se separar do celular, tablet etc., prejudicando o seu desenvolvimento. Adultos também costumam se isolar da realidade com esses joguinhos, mas não admitem que estão viciados.