As cidades inteligentes crescem e os cidadãos a cada dia demandam mais alimentos. O Brasil responderá até 2030 por 1/3 da produção de alimentos do mundo, sim, do mundo.
Hoje o agronegócio tem 21% do PIB do Brasil, segundo o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Aproximadamente metade deste número vem da agricultura familiar (onde pelo menos metade dos trabalhadores são da mesma família).
Conversei com o agrônomo Iran Nora, da Nora Consultoria, que atende grandes propriedades do centro-oeste brasileiro. No centro-oeste podemos perceber o quão rico é o Brasil. Nossa produção de grãos é fantástica, conseguimos produzir 80 sacas de soja por hectare no sequeiro (sem irrigação).
Iran conta que vem trabalhando com a agricultura digital já há algum tempo e isso contribui de forma decisiva para o aumento da produtividade e consequente aumento da lucratividade de seus clientes.
Através do monitoramento climático de última geração, ele sabe com antecedência de até 15 dias o momento ideal de plantio. Com o monitoramento por satélite, Iran consegue acompanhar a evolução do desenvolvimento da planta e usando um big data, identificar as melhores práticas no manejo através dos anos. A imagem abaixo traz muita informação de uma determinada área. Podemos perceber o quanto varia a produtividade.
Equipamentos como plantadeiras automatizadas que já integram recursos de machine learning, IoT (Internet das Coisas) e análise de dados, auxiliam de forma decisiva na precisão na hora de semear.
Apenas 20% da produção no mundo é feita em área irrigada e mesmo assim, 40% de toda produção mundial vem destas áreas. A irrigação é muito importante para o aumento da produção, e novamente, muita tecnologia já está disponível. Pivôs podem ser operados à distância, os dados coletados sobem para nuvem e vão alimentar o Big Data. Cruzando as informações de plantio, melhoramento do solo, crescimento da planta, dentre outras, levam o produtor a um novo patamar.
A inteligência na área rural hoje é ainda muito baixa. Uma grande dificuldade é a comunicação. Não há internet com boa estabilidade, isso quando há. Quando implantei o primeiro sistema de inteligência, em uma fazenda, a internet foi a grande dificuldade. Precisávamos viabilizar uma internet estável para integração do ERP-Enterprise Resource Planning (sistema de gestão) do grupo, sem comunicação notas fiscais não são emitidas. O segundo passo foi o registro de imagens e a gestão situacional, compartilhando todas estas informações com as demais unidades do grupo (Rio, NY, Uberaba e SP).
Na pecuária estamos muitíssimos avançados, hoje conseguimos clonar animais e reproduzir os melhores para, por exemplo, aumentar a produção de leite por animal, ou mesmo aumentar o peso por animal. No interior de Minas Gerais um dos maiores geneticistas do mundo, Rodolfo Rumpf reproduz animais para o Brasil e o mundo.
Na imagem acima, um clone recém-nascido. Aqui o mistério está no acompanhamento desde a coleta do material genético até os primeiros meses do nascimento. Até o parto é especial. A inteligência aqui é fundamental.
Sabemos que há muito a ser feito nos próximos anos. A barreira não é a tecnologia e sim a integração da mesma a capacidade humana de interagir aliado ao custo de implantação.
Considerando que as cidades são vivas e da mesma forma as áreas rurais, a “simbiose” entre elas é urgente. Hoje 1/3 dos produtos são desperdiçados na produção e distribuição. Vias de acesso em péssimas condições, a falta de ferrovias e até mesmo hidrovias e a cabotagem, são um gargalo.
O monitoramento de todo processo, desde o abastecimento das fazendas com sementes e demais insumos até a entrega dos produtos a mesa nas cidades, é um grande desafio. Se precisamos aumentar em 70% a produção de alimentos até 2050, para atender ao crescimento da população mundial e este crescimento se dará no aumento da produtividade, a mitigação destes mais de 30% de desperdício é fundamental.
Uma medida que vale ser avaliada é a produção de alimentos nas cidades, em fazendas verticais. Isso não resolve, mas contribui com a eficiência.
Outro ponto de extrema importância é a geração de energia por biodigestão. Essa alternativa é muito sinérgica com a produção rural. A biodigestão é uma linha de fermentação, que reproduz o processo natural, fermentação, sem presença de oxigênio, da matéria orgânica. Fazendas podem usar parte de sua produção para gerar o combustível para suas máquinas, o biometano, substituindo o diesel. Plantas energéticas, como silagem de milho, podem ser avaliadas e devem ser desenvolvidas, até mesmo com parte dos royalties do petróleo.
Cidades e fazendas inteligentes contribuem diretamente com a redução das emissões.
Gosta do assunto e quer sugerir algum tema? Envie um e-mail para ricardosalles@asmprojetos.com.br