Arrastões na reta final de campanha podem ser determinantes. Já houve muita “onda vermelha” a favor do PT no passado mas agora está em curso a onda pró-Bolsonaro, que o colocou não muito longe de uma vitória no primeiro turno. Não é provável, mas tornou-se possível. O Ibope de ontem mostrou que Bolsonaro continua crescendo (31% para 32%), embora Fernando Haddad também tenha se movido positivamente (21% para 23%). Do final de semana até ontem, grandes massas de eleitores pobres e conservadores definiram-se a favor do candidato de extrema direita, numa onda antipetista impulsionada, principalmente, pela tacada do juiz Sergio Moro, ao divulgar a delação de Antonio Palocci. Com a lembrança dos casos de corrupção reavivada, estes eleitores ganharam a justificativa para a adesão.
Ondas eleitorais são formadas pela erupção de um fato extraordinário ou pela articulação de um conjunto de fatos. Assoprando forte, Moro empinou uma onda que já ameaçava se formar nestas franjas do eleitorado mais pobre, que já foram beneficiadas pelas políticas dos governos petistas mas, sendo essencialmente conservadoras, hesitavam em aderir ao candidato da extrema-direita, que fala muito do que gostariam de ouvir, especialmente sobre ordem e segurança. O impulso veio com a enxurrada de velhas notícias sobre corrupção nos governos petistas, que Moro calculadamente fez jorrar. Desabridamente agora ele fez política com as armas da Justiça, rasgando o que ainda havia de fantasia.
Contribuiu também para a formação da onda a postura excessivamente comedida e branda de Haddad. O substituto de Lula, que deveria estar recordando aos eleitores o conjunto da obra dos governos petistas, foi bom moço demais nos últimos dias, talvez preocupado com a reação das elites e as feitiçarias do mercado. Não falou às grandes massas e nem avançou no detalhamento de seu programa de governo. Não avançou sobre o que mudará na economia para que haja novamente crescimento e emprego. A transferência de votos já havia acontecido na medida do possível. Não era mais hora de continuar segurando a máscara de Lula numa das mãos, e sim de começar a construir sua própria “persona”, dizendo quem é e o que fará. Nesta reta final, diz-se no PT, ele vai responder com mais energia aos ataques e falar ao povão sobre coisas concretas como emprego e melhora nos serviços públicos.
Se Bolsonaro ganhar no primeiro turno, Geraldo Alckmin terá boa parte da responsabilidade. Sua campanha fermentou o antipetismo com peças em que combatia Bolsonaro não pelo mal que ele representa, mas porque ele perderia no segundo turno, permitindo a volta do grande mal, a volta do PT. Só ele, Geraldo, poderia evitar este mal. Ciro também reavivou o antipetismo. É compreensível seu ressentimento por não ter o PT, mais uma vez, cedido a cabeça de chapa a um aliado, numa construção que poderia ter unido e fortalecido a esquerda. Mas o perigo está aí, e diante dele Ciro segue dizendo coisas como “o PT já fez mal demais ao Brasil”.
Há na esquerda uma discussão sobre a contribuição que as manifestações do #elenão, no sábado, teria dado para a formação da onda. Afinal, Bolsonaro até cresceu entre as mulheres. Em vez de “empatia”, a manifestação, basicamente de classe média, pode ter produzido “antipatia” em camadas mais pobres. Mas o sopro grande mesmo foi de Moro.
Blindagem trincada?
Bolsonaro não vai ao debate da TV Globo hoje, escorado em uma contrarrecomendação dos médicos que o operaram. Ao chamá-los ao Rio para obter o parecer, Bolsonaro parece ter procurado responder a cobranças sobre sua participação, vindas de sua base. A blindagem da facada pode ter ficado mais fina. O eleitorado não gosta de candidato que se esconde. Lula era popularíssimo em 2006, quando disputava a reeleição. Mas ao faltar ao debate da Globo, frustrou eleitores e isso, combinado com o caso dos aloprados, tirou-lhe os votos para a prevista vitória em primeiro turno . O eleitor de Bolsonaro vai entender agora, mas no segundo turno, vai querer que ele diga como será seu governo.