Na próxima quarta-feira, o futuro czar da economia no governo Bolsonaro, Paulo Guedes, prestará depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura supostas irregularidades em seus negócios com fundos de pensão de estatais. Em seis anos ele fez fortuna ao captar cerca de R$ 1 bilhão de sete fundos. A Lava Jato recrudesceu nos últimos dias com ações que atingiram MDB, PT, PSDB e outros partidos.
O caso de Guedes, no futuro, indicará se PF e Ministério Público continuarão desfrutando da independência conquistada nos governos petistas. A ofensiva contra os partidos tem embutido um significado político. Quanto mais desmoralizados estiverem, menos condições terão de fazer oposição ao futuro governo e conter seus excessos, no jogo de contrapesos do sistema democrático.
A eleição de Bolsonaro e a escolha de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça injetaram novo gás na Lava Jato, que saiu de uma quase paralisia nos dois meses finais da campanha para uma ofensiva que tem os partidos políticos como alvos. A prisão do governador Pezão, na sexta-feira, foi um ato tão desnecessário como a condução coercitiva de Lula. Convocados, ambos se disporiam a prestar depoimento. Um governador no exercício do cargo não iria fugir. Serviu como demonstração de que a Lava Jato está mais forte que nunca. Um tirambaço no MDB.
Na véspera, o Ministério Público de São Paulo divulgou revelações premiadas da construtora CCR. Lava Jato agora vai deixando de ser nome da operação comandada por Moro em Curitiba e vai se tornando um genérico para ações de combate à corrupção. A CCR revelou doações via caixa dois para 15 políticos, entre eles José Serra e Geraldo Alckmin, do PSDB. Teria sido beneficiados ainda Gilberto Kassab, do PSD, Marta Suplicy, quando era do PT, e Campos Machado, do PTB.
Anteontem, novos beneficiários foram divulgados. Gleisi Hoffmann, do PT, teria recebido R$ 3 milhões, e o chanceler Aloysio Nunes Ferreira, do PDSB, R$ 1milhão. Integrantes da equipe do governador eleito de São Paulo, João Dória, também tucano, estão na lista. E assim, os maiores partidos começam a ser, de novo, moralmente depenados. Chegarão fragilizados ao início do novo governo. Muito oportuno. Está claro que há uma nova ofensiva, inspirada pela ascensão de Bolsonaro e Moro. A peça fora do lugar é o inquérito sobre os negócios de Guedes, aberto pela Polícia Federal com base na independência para investigar tudo e todos, proporcionada por Lula e Dilma. Sim, os governos petistas tomaram medidas contra a corrupção, que incluem também a aprovação de leis neste sentido e a reestruturação da CGU, o que não impediu que ela deitasse raízes no período.
A PF está apurando se Guedes cometeu os crimes de gestão fraudulenta ou temerária ao captar recursos das entidades de previdência complementar dos empregados de estatais. Também será averiguada a hipótese de emissão e negociação de títulos garantias suficientes. Sua defesa defende a lisura das operações. Na Procuradoria Geral da República a investigação é conduzida por um falcão, o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, que já denunciou outras autoridades envolvidas com ilícitos nos fundos de pensão. A ele é que Guedes prestará depoimento na quarta-feira. Dirigentes dos fundos, quase todos ligados ao PT ou ao MDB, também são investigados.
A partir da posse de Bolsonaro, e de sua nomeação, Guedes passa a ter foro especial no STF. A continuidade das investigações será um bom teste sobre a atuação do próprio STF, tendo como alvo o segundo homem mais forte do novo regime, bem como da independência da PGR e da PF.
Quanto aos partidos, eles que se cuidem. A ofensiva parece destinada a mantê-los no chão, sem capacidade de cumprir o papel que devem ter no jogo democrático. O MDB pode vir a compor-se com o novo governo. Já fez um ministro. O PSDB segue dividido entre a ala que fará oposição e o grupo adesista de Dória. O lugar do PT é na oposição. Mas está claro que há uma disposição para quebrar todos eles, com maior ou menor virulência.