O pianista Breno Ruiz e o violonista Miguel Rabello lançaram um grande disco: pela bela capa (concepção de Amanda Parmegiani) e, principalmente, pelo talento de Breno e Miguel, que musicaram e tocaram os sempre instigantes versos de Paulo César Pinheiro. As músicas são um espetáculo vindo da coerência e das concepções.
Conscientes de seu papel na nossa cultura musical, vão produzindo belezas, antevendo dias melhores. E em seus ofícios de escrever, compor, cantar e tocar, exalam genialidade e trazem esperança. Sim!, música e esperança levadas aos brasileiros, já pressentindo que a solidariedade voltará a prevalecer em toda gente.
O CD Diferente (Acari Records) traz tudo o que eles têm a oferecer: quase sempre juntas as vozes; quase sempre juntos o violão e o piano; e sempre os versos harmônicos amparando o sentido dos acordes, refletidos em melodias que amparam o talento jovial dos dois exímios compositores e instrumentistas.
“Charada” (Miguel Rabello, Breno Ruiz e Paulinho Pinheiro) mostra o quanto a soma dos talentos multiplica o resultado do trabalho. Breno e Miguel cantam e tocam. Ora juntos, ora separados. O timbre grave da voz do Breno realça o significado dos versos.
“Diferente” (Miguel Rabello e Paulinho Pinheiro) tem o filho e o pai no mesmo prumo. O uníssono de voz e violão é destaque. Os dois dobram a voz e cantam por amor à cultura, que tem na boa música um quê de força e beleza.
“Desprezo” (Breno Ruiz e PCP) nasce da melodia que abre os braços para a voz de Breno acolher as ideias do poeta.
Em “Caxinguelê” (Ruiz e PCP), Miguel e Breno cantam à singeleza impressa em versos de palavras inusuais e belas.
Após mais uma bela intro do violão, Miguel canta o início de “Pau de Aroeira” (Rabello e PCP). Logo as vozes se ajuntam e o piano se achega para tocar.
“Imagens” (Rabello e PCP) é solada por Miguel. Os instrumentos caminham juntos, buscando a mais profunda e infinita música... Meu Deus!
“Viola de Luz” (Rabello e PCP): as vozes vêm doces. E os dois se unem e tocam e cantam e soltam o verbo: “Viola do céu/ Tem cordas de ar (...) Seu ponteio vem do espaço/ Sem ninguém tocar (...)”.
“Viola de Cigano” (Ruiz e PCP) é moda, com sabor interiorano, soando (e)terna, arrebatada. Com vozes graves, os moços a (en)cantam ao som virtuoso de seus instrumentos.
“Musas” (Ruiz e PCP) propicia a Breno tocar e cantar como cantam e tocam os cantadores em louvor às mulheres brasileiras.
“Sereno e Mágoa” (Ruiz e PCP) vem com intro do violão. A voz do Breno ao piano é como luz clareando o breu.
“Duelo” (Rabello e PCP) tem arranjo precioso, como, aliás, todos os outros. O bom gosto dos instrumentos e das levadas traz à luz a música que cobre o desamor com amor.
“Doutrina” (Miguel Rabello, Breno Ruiz e Paulinho Pinheiro) fecha o álbum. Louvor à beleza e à liberdade brandidas por mãos, palavras e vozes, simples substantivos que vão aos corações, clamando que a esperança (sobre)vive, ainda que em meio a tanta sandice.
*Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4