Desde que foi fundado, em 2008, o AirBNB escolheu como alvo a poderosa indústria hoteleira, vendendo-se como diferente do tradicional ao proporcionar aos clientes uma experiência de viagem “como se fossem cidadãos locais”. Hoje, 11 anos depois, a startup tem mais de 6 milhões de propriedades listadas em seu site e hospeda, todas as noites, cerca de 2 milhões de pessoas em todo o mundo. Não à toa, seu último valuation está na casa dos US$35 bilhões, o que faz da empresa a quinta startup mais valiosa, segundo a consultoria CB Insights. Porém, de olho em um IPO que parece próximo (algumas fontes falam que o mesmo pode ocorrer ainda este ano ou, no máximo, no primeiro semestre de 2020), a companhia começou uma série de aquisições e investimentos que ampliam suas linhas de negócios e a colocam cada vez mais próxima de seus grandes rivais, os hotéis.
Tal movimentação teve início em fevereiro de 2018, quando, durante um evento para a imprensa em São Francisco, Bryan Chesky, co-fundador e CEO do AirBNB, abriu planos para posicionar a empresa muito mais no ramo de viagens do que como uma simples plataforma de compartilhamento de acomodações. A partir de então, alguns hotéis passaram a ganhar certo destaque e até um programa de fidelidade foi especulado – apesar de que o mesmo ainda não saiu do papel. Entretanto, foram os já citados investimentos e aquisições que mostram a mudança de posicionamento de forma mais clara. Em abril último, a startup anunciou um aporte de US$200 milhões na OYO Hotels & Rooms, maior rede hoteleira da Índia e que tem presença forte na China e em outras partes da Ásia. Além de operar cerca de 13 mil hotéis de baixo custo nestes países, a companhia, recentemente, passou a apostar também no compartilhamento de imóveis. O investimento na OYO é importante para expandir o AirBNB, especialmente no mercado asiático.
Um mês antes, a startup de Chesky pagou US$400 milhões para comprar o HotelTonight, um aplicativo que permite reservar de última hora (no mesmo dia ou no dia seguinte) quartos em hotéis por preços com descontos. São mais de 25 mil hotéis em 1.700 cidades do mundo disponíveis atualmente no app, que, a princípio, continuará operando da mesma forma. Aos poucos, algumas acomodações serão selecionadas para serem listadas no AirBNB também. A última empreitada foi anunciada há duas semanas: uma parceria com a RXR Realty, uma das maiores donas de imóveis em Nova York, para transformar partes de prédios comerciais em áreas nobres da cidade em suítes de luxo para serem listadas de forma exclusiva na plataforma da startup. O primeiro projeto será no Rockfeller Plaza, com 200 unidades com previsão de serem inauguradas ano que vem. A operação vai seguir todas as regras municipais e contratar empregados do sindicato dos hoteleiros para evitar problemas com o governo local, que há anos batalha contra o core business do AirBNB por lá. A ideia é que haja outros empreendimentos em NY no futuro e que o modelo, caso dê certo, se espalhe por outras cidades globalmente.
No entanto, os hotéis passaram a buscar uma fatia do mercado da startup também. No final de abril, a Marriott, maior rede hoteleira do mundo, anunciou o Homes & Villas, no qual oferecerá 2 mil propriedades de alto padrão em 100 cidades do mundo, desde mansões em ilhas do Caribe até castelos na Irlanda. Trata-se de uma expansão de um programa piloto iniciado em 2018 com 500 imóveis em quatro países europeus e que, segundo a companhia, deu muito certo. Se o Homes & Villas obtiver sucesso, podemos esperar um aumento no número de propriedades listadas. A Marriott, porém, não foi a pioneira entre as grandes cadeias de hotéis a olhar com carinho para o compartilhamento de acomodações: em 2016, a AccorHotels comprou 30% da Oasis Collection, que oferece o serviço nos EUA, América Latina e Europa; no mesmo ano, a companhia também adquiriu a OneFineStay, por cerca de US$170 milhões.
Curioso e interessante ver os movimentos destas empresas, como se fosse um jogo de War. Resta aguardar as próximas jogadas e ver quais novos territórios serão conquistados.