Quando um cachorro morde um cidadão, raramente o fato vira notícia. Se algum humano morder um cachorro, cria-se o interesse em noticiar. Ninguém gosta de publicar reportagens sobre questões repetitivas, óbvias, sem potencial de leitura ou audiência.
Sendo assim, neste início de governo, temos um problema entre os veículos de comunicação tradicionais e na internet, para os produtores rurais.
Que informações construtivas de interesse específico ou regional querem os produtores?
Não me lembro de nenhuma pesquisa que tenha sido feita com os empreendedores rurais hierarquizando as matérias mais desejadas, sua frequência, profundidade, conteúdo e forma.
60 anos atrás, pelo rádio, na Zona da mata de Minas Gerais, a voz do Brasil informava a cotação do café, diariamente. Hoje, nessa região, esta informação é pouco requerida.
Talvez uma pesquisa indicasse que cotações mais interessam atualmente.
Pluviometria certamente é de interesse generalizado e a internet já tem sites especializados com muitas definições geográficas. Valor da arroba de boi gordo também interessa e já é repetitiva nos canais rurais abertos, na TV paga e nas parabólicas.
Mas, não quero falar apenas dessas notícias que se assemelham a avisos e não concluem ao longo do ano uma nova realidade de informações essenciais para o produtor rural. Refiro-me a possibilidade de um “espaço construtivo” de jornalismo mesmo, construído com leitores e audiências sobre determinado assunto que precisa de muitos capítulos para disseminar um conjunto de dados, intenções tecnológicas que melhorem a performance no campo, no abastecimento. Imagino que um segmento de 3 ou 4 minutos complete em uma semana uma resposta consistente sobre por exemplo: “Eucaliptos, plantio, manutenção e aspectos comerciais”.
As matérias citadas, na TV ou internet, deveriam contar enquanto vão ao ar com testemunhais de experiências bem-sucedidas e obstáculos, sempre lembrando que a região geográfica deve ser a moldura da informação. Se não houver, durante as divulgações esta interação com produtores, cientistas, técnicos, etc., o projeto não será bem-sucedido.
É claro que após um período, toda cultura ou pecuária (de cavalos a coelhos), deveria ser revisitada e, os diversos ciclos vão compor um maior conhecimento construído com o setor produtivo e, portanto, teremos maior significância para todos.
É claro que isso precisa de governo para início e sucesso. E de pesquisa prévia sobre as angústias atualizadas dos produtores. Não vejo outro modo de agir consistentemente sobre crédito rural, priorização das pesquisas, treinamento, segurança no trabalho rural, preservação de mananciais, logística de abastecimento, etc., etc., sem uma programação CONSTRUTIVA, que dissemine pela facilidade contemporânea de comunicação, técnicas consagradas, tecnologia e inovação, de maneira mais eficaz.
Bancos, por favor, peguem o dinheiro daquelas divulgações grandiosas sobre o “agronegócio”, e invistam na formação técnica sobre produção. Vamos parar de falar de forma ufanista e inútil, sobre coisas gerais e vazias.
Ajudem o produtor a plantar, colher e vender batatas de forma correta.
O governo poderia começar desde já a reservar noventa por cento de seu tempo para debater desenvolvimento efetivo da atividade rural, por regiões e atividades.
Dez por cento já seriam o bastante para falar de demarcação de terras indígenas e outras polêmicas, assuntos que devem ser enfrentados pela sua importância, mas que não devem tirar espaço e dedicação do esforço nacional de produzir mais e melhor.
Quanto mais tempo dedicarmos a questões intrinsicamente ligadas ao produtor, comercialização, produção e produtividade, melhores políticas públicas teremos, não acham?