

Mas dinheiro que é bom e que minha história profissional justificaria, nada. O mercado praticamente acabou. Além da crise que serve de desculpa para a falta de coragem empresarial e a covardia financeira de gente que prefere investir na bolsa que na cultura ou em qualquer outra produção, o dinheiro não tem circulado pelas minha bandas. Também vivo de cinema e teatro, escrevendo roteiros e peças. Ganho até um dinheiro razoável quando tem alguma coisa em cartaz ou quando estou trabalhando em algum filme. Nada demais, mas, pelo menos, você se sente justamente recompensado.
A nova Lei de Incentivo ( ex- Lei Rouanet), ainda engatinhando, vai precisar de muitos ajustes antes de tentar ser realmente uma lei de incentivo. As poucas salas de teatro que restam por conta da crise e os corajosos produtores independentes que insistem em produzir não podem se limitar aos monólogos porque custam pouco. Os musicais que viraram uma especialidade dos artistas brasileiros se inviabilizarão. Só o investimento direto não será suficiente. Poderemos ficar reduzidos a uma produção cultural de gabinete ou sem a menor importância transformadora.
O tão criticado ( e discutível) viés político dos governos anteriores volta vestido com outros figurinos. A última intervenção do governo (não era não-intervencionista?) na campanha publicitária do banco do Brasil mostra a ideologia conservadora prevalecendo contra os interesses do próprio banco. E estamos no século 21!
Agora Bolsonaro tira do bolso a ideia de não mais dar dinheiro para as faculdades de ciências humanas. Querem formar um país sem pensamento, sem questionamentos. Um país de bitolados superdotados.
Entraremos para a História com um país que inventou tantas coisas na música, no teatro, no cinema mas deixou tudo ir por água abaixo. O povo não conseguiu mudar a mentalidade e prefere cair nas mentiras e fake- news que colocam nas redes os artistas como vagabundos aproveitadores. Criar não é repetir o que já ouvimos. É arriscar, é levar o pensamento lá na frente mesmo criando discórdias mas preservando a reflexão e a discussão. Pensar sobre a vida, a realidade, as pessoas é a maior característica da arte. Se não houver isso estaremos só criando informativos oficiais ou ilustrando a realidade como uma bela paisagem ou natureza morta, mas morta mesmo.
A arte jamais sobreviveria sem arriscar. Não haveria a pintura de Picasso, o cinema de Pasolini, Visconti ou Fellini, nem o teatro de Dario Fo. O Rock and Roll teve que vencer barreiras culturais para se tornar a manifestação mais forte da cultura jovem no século passado. Teve que virar contracultura para isso acontecer. Uma cultura que realmente mudou o mundo. Se isso parar de acontecer por aqui nos tornaremos um rebanho sem raciocínio, onde cada vez mais a frase do nazista Goebbels fará sentido; "Quando ouço falar de cultura puxo logo a pistola".
Espero continuar produzindo para ajudar a manter esta frase somente na memória.