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Una tarde inolvidable

Miguel Paiva -
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O jogo foi fraco mas a experiência inesquecível. Depois de um almoço com meu cunhado argentino apareceu o ingresso para ver Messi jogar. Não resisti ao convite e fui viver minha experiência no meio da torcida argentina no estádio do Maracanã. E fiz tudo segundo o figurino. Metrô até São Cristovão, caminhada até o setor E, subida ao nível 2 do estádio. Primeira surpresa boa foi a estrutura pessoal para ajudar os torcedores. Homens e mulheres em cadeiras altas tipo salva-vidas com megafone em punho indicando em português e espanhol o caminho segundo o ingresso de cada um. Deve ser o tal padrão Fifa, exigência mínima para um bom andamento do jogo. A caminhada continuou até o portão E. Lá fomos impedidos de entrar com uma latinha de cerveja mas, logo em seguida, já dentro do estádio ofertas infinitas de mais cerveja. Talvez, pensei, a catraca seja abstêmia e recuse entradas com latinhas. Dentro pode, por um preço muito mais alto, é claro.

Macaque in the trees
(Foto: Miguel Paiva)

Segundo meu cunhado na Argentina é pior. Tem teste de bafômetro aleatório nos estádios. Chegamos aos nossos lugares, meus joelhos agradecendo em castelhano e me vi cercado de hermanos e brasileiros, torcedores desde pequenininhos da Venezuela. Aqui vale uma pausa política e curiosa. A Venezuela vem sendo esculachada por muita gente por causa do Maduro mas se for para torcer contra os torcedores brasileiros adotam o país com o coração na boca.

Continuando no padrão Fifa vemos aquela centena de seguranças sentada em banquinhos e de costas para o jogo vigiando a plateia. Foi esse mesmo padrão Fifa que exigiu que os estádios tivessem os assentos até o nível do campo. Não sei como é no resto do mundo mas vai sempre parecer estranho um bando de gente de costas para a emoção vigiando um bando de pessoas emocionadas. Mas, torcedor é uma raça curiosa. A convivência era pacífica, o tempo todo, o que também me surpreendeu. Segundo meu cunhado, consultor de assuntos esportivos, a torcida argentina só é violenta quando torce pelos times e não pela seleção.

Mas o joguinho seguia tedioso logo depois do primeiro gol, bem no início da partida. Bolinha pra cá, bolinha para lá e os argentinos meus vizinhos gritando todos os impropérios que a língua espanhola ensina para que o time jogasse melhor. A filial temporária da Bombonera que o Maracanã se tornou sacudia por inércia porque de jogadas emocionantes e perigo de gol foram poucos. Muita fotos, muitas selfies e o jogo rolou até o segundo gol que trouxe mais tranquilidade para os argentinos.

Dai pro fim foi rapidinho e lá fomos nós , de volta, seguindo o manual de ida ao Maracanã. Entramos no Metrô de volta para a zona sul que parecia o metrô de Buenos Aires. Só camisas azul e branco, muita cantoria e algumas discussões, Uma delas até me envolveu de carona. Um brasileiro ao meu lado começou a defender Bolsonaro e acusar o outro de ser do PT. Eu, discretamente e só para entrar no clima dos papos inflamados de futebol, disse que não precisava ser do PT para ser contra o Bolsonaro. Ele ficou muito zangado, virou o dedo pra mim, mandou eu ficar na minha, de modo agressivo, e eu tive que suplicar aos santos do futebol para que a paz voltasse. E olha que era uma discussão entre dois brasileiros sem argentinos.

Desci na estação Antero de Quental para pegar, como bom cidadão sustentável que sou, uma bicicleta de aluguel e chegar em casa. Aliás, era o único modo porque o trânsito estava completamente parado no meu sentido. Depois de um tempo consegui minha bicicleta e lá vim eu, pedalando e relembrando a experiência, discreta concordo, de uma tarde na torcida argentina.

Semana que vem nos enfrentaremos na semifinal, mas do jeito que os dois times estão jogando vai ser melhor ficar em casa tomando um vinho ou uma caipirinha que dará mais prazer sem riscos de romper os ligamentos na caminhada ou de levar porrada de um bolsonarista enfurecido no metrô. Mas, valeu. Meu cunhado voltou feliz.