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Um policial nunca atira sozinho

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“A criminalidade toma conta da cidade. A sociedade põe a culpa nas autoridades”, já dizia Gabriel Pensador na música Cachimbo da Paz. A narrativa feita pelo cantor já denunciava a guerra que vivemos nos território da favela e alerta para a hipocrisia desmedia dos aparelhos de segurança pública.

Quero partir do pressuposto, que na Guerra às Drogas ninguém sai vencedor. Ambos os lados têm perdas. O morador da favela tem sua liberdade cerceada e segurança comprometida, os criminosos estão sujeitos constantemente a cadeia ou morte e a polícia vem sendo dia após dia, indo de mocinho para vilão da história, se tornando também vítima dessa violência sistêmica. 

Segundo a ONG (Organização Não Governamental) HumanRightsWatch, em relatório divulgado, a polícia do Rio de Janeiro matou mais de 8 mil pessoas na última década, ao menos 645 dessas mortes ocorreram em 2015, acredito que o relatório de 2016 seja mais drástico do que 2015.

Um fato nos chama a atenção na pesquisa desenvolvida: foram cerca de 24,8 pessoas assassinadas para cada policial morto. Segundo a ONG, a proporção de assassinatos consegue ser maior que o dobro do que a polícia mata na África do Sul e três vezes a mais do que a polícia dos EUA.

É importante frisar que a violência exacerbada na prática policial, é fruto de uma série de violações do direito do trabalhador policial. Por isso tendo a afirmar que o policial nunca atira sozinho. Junto com ele está toda precariedade do Estado, todo despreparo dos formandos e formadores, toda ineficiência estrutural da força auxiliar das forças armadas, toda escassez de direitos trabalhista, além de toda violação dos Direitos Humanos. 

Somente a desmilitarização da Polícia Militar poderia frear a sequencia crescente de policiais assassinados. Concomitante a isso, a unificação das polícias seria uma resposta adequada para humanizar as fileiras da PM. O mais acertado em dizer, é que diante de um estado de sítio, as famílias, tanto do PM quanto a dos criminosos, sofrem com essa guerra. 

O que leva o ódio aos policiais? Quem é o vilão da história? Sem dúvida, é o Estado. A guerra é sistêmica. O governo não paga o policial, não paga o professor, não amplia as escolas, não garante uma habitação digna para a população de rua, fecha os aparelhos de produção de cultura e lazer, não inclui as favelas na urbe e muito menos vê o pobre como cidadão, exceto nas eleições.  

*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.