
É dia de Globo de Ouro nos EUA, tendo como recordista de indicações (seis) uma sátira política ainda inédita por aqui, “Vice” - com o galês Christian Bale, o Batman, 20 kg mais gordo para viver o ex-vice-presidente americano Dick Cheney – e tendo Jeff Bridges como o homenageado da festa, promovida anualmente pela Hollywood Foreign Press Association (HFPA), grupo de correspondentes estrangeiros radicados em Los Angeles.
A cerimônia vai ocorrer no Beverly Hilton Hotel, tendo Sandra Oh e Andy Samberg como apresentadores.Há grandes sucessos em concurso (“Pantera Negra”, “Nasce uma estrela”, “Bohemian Rhapsody”), incluindo longas de contundência social explosiva, como “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee. Mas o colorido de fabulação mais forte do evento, que amplia a paleta ética e estética multicultural do evento, vem do Japão, na forma de um desenho animado. É raro, numa seara dominada pela Disney ou pela Fox, um longa-metragem japonês brilhar... sobretudo da forma como “Mirai” anda brilhando pelo mundo.

No entanto, o colorido de fabulação mais forte do evento, que amplia a paleta ética e estética multicultural do evento, vem do Japão, na forma de um desenho animado. É raro, em uma seara dominada pela Disney ou pela Fox, um longa-metragem japonês brilhar... sobretudo da forma como “Mirai” anda brilhando pelo mundo.
“Tem um elemento nesse filme que é a nostalgia do passado, a nostalgia da liberdade plena de sonhar que temos na infância”, disse seu diretor, Mamoru Hosoda, em Cannes, onde a fantasia sobre um menino capaz de viajar no tempo iniciou sua trajetória, em maio de 2018.
Desde então, Hosoda só colecionou elogios, vendo sua animação se tornar um dos maiores fenômenos populares da indústria audiovisual japonesa dos últimos anos. Na Croisette, o realizador do fenômeno “O rapaz e o monstro” (2015) demonstrou ser muito tímido, de poucas palavras, mas sempre sorridente. Em Cannes, Hosoda cumprimentava os espectadores fazendo uma pergunta: “Você tinha quantos anos quando começou a ver Digimon?”. Era uma forma de ele checar a fidelidade a seu trabalho, conhecido pela tal séria animada por ele mencionada, que foi fenômeno por aqui nos anos 2000, na TV.

Aclamada ainda nos festivais de Londres e de Annecy, também na França, a aventura temporal sobre o menino Kun e sua irmã, Mirai, faz de Hosoda um dos grandes animadores dos nossos dias. “Sinto que quem tem irmão vai se identificar com o que eu tenho pra contar”, disse Hosoda. “É uma história de aceitação em família”.
Elogiado por sua originalidade – já que tem uma trama inusitada, avessa a qualquer exercício de adivinhação ou qualquer margem de previsibilidade –, o desenho animado de 1h38 é uma aula de psicanálise para todas as idades. Kun é um guri de quatro anos, louco por trenzinhos, que acaba de ganhar uma irmã. A aparição dele leva o rapazinho ao inferno. Antes, os pais viviam para ele; agora, não mais: Mirai requer atenção, chora, suja fraldas todo o tempo. Mas ao esbarrar com uma estranha criatura, que diz ser um príncipe – na verdade, o cãozinho dele materializado como gente –, o menino engata um salto no tempo, por diferentes eras.
Boa sorte a Hosoda hoje. Mais criativo do que ele, no Globo de Ouro 2019, não há.
* Roteirista e crítico de cinema
___________
Concorrentes
Melhor Filme (Drama)
“Pantera Negra”
“Infiltrado na Klan”
“Bohemian Rhapsody”
“Se a rua Beale falasse”
“Nasce uma estrela”
Melhor Filme (Comédia/ Musical)
“Podres de ricos”
“A favorita”
“Green Book – O guia”
“O retorno de Mary Poppins”
“Vice”
Melhor Direção
Bradley Cooper (“Nasce uma estrela”)
Alfonso Cuaron (“ROMA”)
Peter Farrelly (“Green Book – O guia”)
Spike Lee (“Infiltrado na Klan”)
Adam McKay (“Vice”)
Melhor Atriz (Drama)
Glenn Close (“A esposa”)
Lady Gaga (“Nasce uma estrela”)
Nicole Kidman (“O peso do passado”)
Melissa McCarthy (“Poderia me perdoar”)
Rosamund Pike (“A private war”)
Melhor Ator (Drama)
Bradley Cooper (“Nasce uma estrela”)
Willem Dafoe (“No portal da Eternidade”)
Lucas Hedges (“Boy erased: uma verdade anunciada”)
Rami Malek (“Bohemian Rhapsody”)
John David Washington (“Infiltrado na Klan”)
Melhor Atriz (Comédia/ Musical)
Emily Blunt (“O retorno de Mary Poppins”)
Olivia Colman (“A Favorita”)
Elsie Fisher (“Oitava série”)
Charlize Theron (“Tully”)
Constance Wu (“Podres de ricos”)
Melhor Ator (Comédia/ Musical)
Christian Bale (“Vice”)
Lin-Manuel Miranda (“O retorno de Mary Poppins”)
Viggo Mortensen (“Green Book – O guia”)
Robert Redford (“The Old Man & the Gun”)
John C. Reilly (“Stan & Ollie”)
Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (“Vice”)
Claire Foy (“O Primeiro Homem”)
Regina King (“Se a rua Beale falasse”)
Emma Stone (“A Favorita”)
Rachel Weisz (“A Favorita”)
Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (“Green Book – O Guia”)
Timothee Chalamet (“Querido menino”)
Adam Driver (“Infiltrado na Klan”)
Richard E. Grant (“Poderia me perdoar?”)
Sam Rockwell (“Vice”)
Melhor Roteiro
Alfonso Cuaron (“ROMA”)
Deborah Davis e Tony McNamara (“A Favorita”)
Barry Jenkins (“Se a rua Beale falasse”)
Adam McKay (“Vice”)
Peter Farrelly, Nick Vallelonga e Brian Currie (“Green Book – O guia”)
Melhor Filme Estrangeiro
“Cafaranum”, de Nadine Labaki (Líbano)
“Girl”, de Lukas Dhont (Bélgica)
“Never Look Away”, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemanha)
“ROMA”, de Alfonso Cuarón (México)
“Assunto de família”, de Hirokazu Koreeda (Japão)
Animação
“Os Incríveis 2”
“Ilha de cachorros”
“Mirai”
“Ralph Breaks the Internet”
“Homem-Aranha no Aranhaverso”
Trilha sonora
Marco Beltrami (“Um lugar silencioso”)
Alexandre Desplat (“Ilha de cachorros”)
Ludwig Göransson (“Pantera Negra”)
Justin Hurwitz (“Primeiro Homem”)
Marc Shaiman (“O retorno de Mary Poppins”)
Melhor Canção
“All the Stars” (“Pantera Negra”)
“Girl in the Movies” (“Dumplin’”)
“Requiem For a Private War” (“A Private War”)
“Revelation’ (“Boy Erased: Uma verdade anunciada”)
“Shallow” (“Nasce uma estrela”)