Testemunha ocular e afetiva do que existe de melhor no mundo do samba, o cantor e compositor Tunico da Vila sobe hoje o palco do Teatro João Caetano num show em homenagem aos 50 anos de carreira artística do pai, Martinho da Vila. O espetáculo abre a temporada do Projeto 15 Pras 7, que revive num horário alternativo o Seis e Meia, realizado nos últimos anos da tradicional casa da Praça Tiradentes.
Integrante da ala de compositores da Unidos de Vila Isabel e benemérito da escola, Tunico, hoje com 45 anos, já trilha seu próprio caminho. Com o pai e Arlindo Cruz, compôs “Festa no arraiá”, samba-enredo do carnaval de 2013. Pode-se dizer, tranquilamente, que nasceu na quadra da escola de Noel Rosa e outras bambas. Começou a frequentar a escola ainda criança, com o pai e sua mãe, Ruça, a presidente campeã pela agremiação no desfile de 1988, com o enredo “Kizomba – Festa da raça”. Foi percussionista na banda do pai por 25 anos e ainda gravou com Luiz Melodia e Leila Pinheiro, entre outros.
“Para mim, ter sido testemunha desse legado cultural do Martinho é um privilégio. Nasci num lar efervescente, de culto as raízes do samba. Pude viajar pelo mundo ao lado de meu pai e, além de compor canções e cantar com ele, aprendi a respeitar a liberdade, as escolhas dos seres humanos”, conta Tunico. “São experiências que vão muito além da relação pai e filho. Martinho da Vila é história da cultura, da música do Brasil negro e afirmativo”, reforça o cantor.
O espetáculo, adianta, tem um formato intimista de show mesclando a peculiaridade do universo musical martiniano com resenhas repletas de afetividade. No repertório, os clássicos sambas sensuais gravados por Martinho como “Disritmia”, “Ex-amor”, “Manteiga de garrafa” além de “Salve a mulatada brasileira”, “Cresci no morro”, “Sino da igrejinha”, “Samba dos ancestrais”, “Mudiakame”, “Casa de bamba”, “Cheguei no samba”, “Chora viola”, “Calango longo”, “Baixou na Avenida” e “Quero quero”.
Com o pai, Tunico percebeu a ligação umbilical do sagrado com o samba, já que o ritmo nasce nos terreiros de candomblé. Além de cantar, Tunico toca atabaques desde a adolescência. É daqueles convictos de que os cantos sagrados das religiões africanas mantêm as raízes vivas. “O nosso país tem um histórico de negação das tradições africanas. O candomblé foi a religião que escolhi na adolescência e que norteou a minha vida. É parte da história do samba e do refletir sobre o holocausto brasileiro, os irmãos que foram sequestrados na África”, teoriza. Essa temática aparece em seu trabalho autoral através de canções como “O velho de Oiá”, “Meu tambor”, “Juremê, Juremá” e “Festa de caboclo”, esta última gravada por Martinho.
Em 2017 e 2018, Tunico gravou dois clipes e disponibilizou nas plataformas digitais. “É dia de rede no mar” uma ode à cultura negra do povo do mar e “Nos caminhos de um só”, junto ao sambista Xande de Pilares, povos de terreiro e do congo num canto pela liberdade religiosa. O artista promove um projeto que envolve tradições e ancestralidade no estado do Espírito Santo, terra não só de sua mulher - a jornalista Déborah Sathler – mas também do congo e da toada “Madalena do Jucu”, adaptada ao samba por Martinho da Vila, em 1989. Tunico insere a congada em suas apresentações com artistas que estão indo ao Estado participar das comemorações dos 30 anos da gravação de “Madalena do Jucu” e realiza um intercâmbio com músicos capixabas.
Idealizado pelo produtor João Luiz Azevedo, o 15 Pras 7, rende tributo ao Seis e Meia do João Cetano, criado por Albino Pinheiro nos anos 1970 e que apresentou quase todos os grandes nomes da MPB ao longo de duas décadas. “A agenda de shows do 15 Pras 7 inclui apresentações neste horário nas terças e quartas-feiras com regularidade até o dia 28 de fevereiro, envolvendo vários estilos.
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Serviço
Tunico da Vila canta Martinho da Vila – Teatro João Caetano
(Praça Tiradentes, s/n). Hoje, às 18h45 - Ingressos: R$ 40 e R$ 20