A mais cultuada banda da psicodelia pernambucana está de volta. Quarenta e cinco anos depois do emblemático disco de 1974, a Ave Sangria lança o single Dia a Dia , em todas as plataformas digitais. A música é um rock visceral que evoca os melhores momentos da banda. Composta no início dos anos 1970 (há uma gravação ao vivo no vinil Perfumes y Baratchos), a atual versão ganhou em decibéis, sem abrir mão do lirismo e da irreverência que marcam o estilo da banda.
A música é uma das onze canções inéditas, feitas entre 1972 e 1974, que integram o álbum Vendavais, previsto para o primeiro semestre deste ano.
O retorno da Ave Sangria via internet
Quis o destino que a era digital trouxesse a Ave Sangria de volta à ativa. Redescobertos por uma novíssima geração, os integrantes originais Marco Polo (voz, composições), Almir de Oliveira (voz, guitarra base, composições) e Paulo Rafael (guitarra solo e viola) se reuniram para traçar novos planos de voo. Estimulado por uma série de shows realizados pela banda a partir de 2014, o trio revirou o baú do tempo e de lá saíram onze canções inéditas, compostas no período de 1972 e 1974.
Boa parte do novo repertório será apresentada nos palcos antes do lançamento do álbum, ao lado de hits como "O Pirata", "Dois Navegantes", "Hey Man". As "novas" músicas mantém a proposta inicial da banda: unir o rock com ritmos nordestinos, mesclando linguagem psicodélica com sonoridades contemporânea. "O repertório do novo álbum persegue as características recorrentes do grupo: do divertimento escrachado à morbidez de temas sombrios, da crítica social implacável ao mais delirante psicodelismo, da agressividade dos rocks pesados ao lirismo acústico das baladas", diz Marco Polo.
HISTÓRICO DA BANDA
Por Marco Polo
Inicialmente integrada por Marco Polo (vocal), Ivinho (guitarra solo), Paulo Rafael (guitarra base), Almir de Oliveira (baixo), Agrício “Juliano” Noya (percussão) e Israel Semente (bateria), a AVE SANGRIA começou com o nome de Tamarineira Village, uma alusão ao Greenwich Village de Nova York, à Vila dos Comerciários, onde a maioria dos músicos morava, e ao bairro onde ficava o hospital da Tamarineira, versão pernambucana do Hospital Pinel, do Rio.
O nome da banda foi mudado por sugestão de uma cigana que conhecemos numa estrada no interior da Paraíba, Ela nos chamou de “um bando de aves sangrias”. Logo em seguida a AVE SANGRIA foi contratada pela gravadora carioca Continental, para a gravação de nosso primeiro LP.
Cerca de um mês e meio depois do lançamento, porém, o disco foi proibido pela Censura Federal da ditadura militar, sendo recolhido das lojas e das rádios, sob a alegação de que a música “Seu Waldir” ia “contra a moral e os bons costumes da sociedade pernambucana”.
Ainda assim, a banda permaneceu no imaginário popular como criadora de um dos clássicos do movimento underground recifense - ao lado de “Paebiru”, de Zé Ramalho e Lula Côrtes; “No sub-reino dos metazoários”, de Marconi Notaro; “Flaviola e o Bando do Sol”, de Flaviola; e “Satwa”, de Laílson e Lula Côrtes.
Depois de um longo período afastada dos palcos, a AVE SANGRIA começou a ser redescoberta pela juventude em 2008, graças à internet, e voltou com tudo em 2014, com quatro de seus seis integrantes originais num show apoteótico (cujos ingressos se esgotaram no mesmo dia em que foram oferecidos ao público) no Teatro de Santa Isabel – mesmo palco onde, 40 anos antes, havia encerrado provisoriamente sua trajetória com o espetáculo Perfumes & Baratchos.
Daí em diante a carreira foi retomada com participações aclamadas por plateias formadas por jovens na casa dos 20 anos, cantando junto todas as letras das músicas do show, em apresentações consagradoras no Sesc Belenzinho e na Virada Cultural, em São Paulo, no Centro Cultural Dragão do Mar, no Ceará, ou no Festival Psicodália, em Santa Catarina.