O novo filme de Neil Jordan (“Traídos Pelo Desejo”) é um thriller que envereda pelo drama para arremessar o público no terror. Vale lembrar, que embora a maioria das cenas sejam previsíveis, é o talento do diretor e duas das atrizes que prendem o espectador. O final parece que vai ser bizarro, mas surge uma carta na manga que traz um sorriso de culpa. O longa deveria ter parado ali, mas insiste em uma cena clichê para seu grand finale.
A trama começa com a jovem garçonete Frances (Chlöe Grace Moretz) que encontra uma bolsa no metrô. Um dilema entre sua roomate Erica (Maika Monroe) e ela surge. Frances quer devolver a bolsa, bancando a cidadã de bem, enquanto Erica prefere gastar o dinheiro que tem ali em futilidades e mimos – que pelo perfil da personagem, acabariam em fotos do instagram. Vence a boa samaritana e a devolução acontece. Frances conhece Greta (que batiza o título original e tem Isabelle Hupert como interprete), que posa de uma senhora solitária cheia de boas intenções, mas que apenas coloca a ingênua Frances como foco da sua obsessão.
Depois de um primeiro ato focado no drama, que parece que vai abordar questões maternas e afetivas, o filme tem um ponto de virada que o leva na velocidade da luz para o terror psicológico. Funciona bem e funcionaria ainda melhor se esse ritmo vertiginoso continuasse, mas acelerar e reduzir drasticamente o ritmo prejudica Obsessão – que passa a telegrafar suas próximas cenas. Chega a ser frustrante ver uma personagem como Greta, uma senhora que tem domínio do mundo virtual e perturbada mental não ser melhor aproveitada. A direção competente de Jordan e as atuações de Isabelle Hupert e Maika Monroe, roubando as cenas, seguram a produção. A ótima atriz Chlöe Grace Moretz fica apagada neste longa. A presença de Stephen Rea como um investigador particular é um agrado para os fãs do cultuado diretor e a última virada (onde o filme deveria terminar) ajudam a tornar Obsessão um thriller ligeiramente acima da média.
* jornalista e assistente de direção.