Agência JB
RIO - O mestre Tom Jobim completaria nesta quinta-feira 80 anos se não tivesse morrido em dezembro de 1994. Em homenagem à data, a Biscoito Fino lança uma caixa com o documentário 'Maestro soberano', dirigido por Roberto Oliveira. São três DVDs que destacam aspectos essenciais da obra e do gênio de um dos maiores compositores brasileiros.
O primeiro volume, 'Chega de saudade', enfoca a criação da Bossa-Nova, seu alcance mundial e permanência como um dos mais representativos estilos da música internacional. Nelson Motta narra a saga do movimento, desde as primeiras composições do jovem aluno de harmonia de Hans Koellreuter: 'Valsa sentimental' (de 1947, que ganhou letra de Chico Buarque 36 anos depois e se tornou 'Imagina'); 'Incerteza' (sua primeira música gravada, parceria com Newton Mendonça, lançada por Mauricy Moura, em 1953); 'Tereza da Praia' (o primeiro sucesso, em parceria com Billy Blanco, na voz de Dick Farney e Lucio Alves, 1954).
Tom quem narra seu primeiro encontro com Vinicius de Moraes, no Clube da Chave, em Copacabana (1952), em depoimento gravado para o Museu da Imagem e do Som, do Rio, em 1967, com participação do próprio Vinicius. Quatro anos mais tarde se aproximariam de vez, apresentados pelo jornalista Lucio Rangel, para compor a música de 'Orfeu da Conceição'. Tom confirma a dureza daqueles dias:
- Já tinha uns sambas gravados, mas foi Orfeu quem tirou a barriga da miséria.
O DVD apresenta algumas das principais canções do movimento, em imagens ao vivo: de Tom e Banda Nova, em shows de 1985 e 1990 ('Samba de uma nota só', 'Você e eu', 'Só danço samba'); do Quarteto Jobim-Morelenbaum, formado por Paulo e Daniel Jobim e Jaquese Paula Morelenbaum, em 1999 ('Desafinado', 'Só tinha de ser com você'); do show em homenagem ao maestro na Praia de Copacabana, no reveillón de 1996, com Paulinho da Viola, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Milton Nascimento ('A felicidade', 'Se todos fossem iguais a você', 'Lamento do morro', 'Chega de saudade'). Os extras incluem depoimento de Nelson Motta e versão de Tom ao vivo para 'Imagina'.
Narrado por Chico Buarque, o segundo volume, 'Águas de março', enfoca a relação de Tom com a ecologia. Como dizia o maestro, "o Brasil é o único país do mundo com nome de árvore". É pela voz de Chico que Tom expressa seu permanente encantamento com as maravilhas da criação:
- Estas músicas são inspiradas na Floresta. Na Mata Atlântica, a vida em profusão. Aqui é o Pindorama, a terra das Palmeiras.
O maestro louva aquela que se tornou sua segunda casa:
- Meu querido Jardim Botânico, de transcendental meditação, quantas vezes esquentei o pé na areia grossa de suas alamedas.
Tom se mantém atento à música dos pássaros:
- Villa-Lobos também conhecia bem os passarinhos. Sou capaz de dizer que passarinho ele está imitando com a orquestra - se orgulhava.
O amor à natureza é representado em canções como 'Águas de março', 'Estradado sol' (com Dolores Duran), 'Correnteza' (com Luiz Bonf ), 'Chovendo na roseira' (com Aloysio de Oliveira), novamente nas imagens dos shows de Tom e Banda Nova, em 1990, com participação de Chico Buarque em 'Sabiá', de autoria da dupla. De 1985 é a versão ao vivo de 'Borzeguim'.
O documentário apresenta imagens clássicas de Tom como o dueto com Elis Regina em 'Águas de março' e momentos raros da filmografia sobre o maestro como o espirituoso flagrante do encontro com Edu Lobo no estúdio, durante a gravação do álbum feito pela dupla em 1981. As músicas registradas nesse disco são 'Vento Bravo', de Edu em parceria com Paulo César Pinheiro, e 'Luiza', de Tom. Os extras apresentam versões exclusivas de 'Passarim' e 'Ai quem me dera', feita com Marino Pinto.
O terceiro episódio, 'Ela é carioca', prioriza a ambientação da obra de Jobim no Rio de Janeiro e a paixão do maestro pela cidade, com narração de Edu Lobo. Inicia com um depoimento de Jobim sobre a cidade, na voz do parceiro. Sobre a Gávea:
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- É aquele lugar alto, no mastro principal do navio, aquela cestinha que o sujeito sobe para ver a terra e descobrir o Brasil. Do alto do morro da Gávea, divisa-se o mar de Copacabana, o Jardim Botânico. Tudo isso é freguesia da Gávea. Ipanema também.
Sobre o 'Samba do avião', Tom explica que se inspirou nos vôos do antigo Constellation, da Panair, ao regressar de São Paulo:
- A gente via a serra, aquela mata da Bocaina, e ali pegavaa rota verde por cima da Restinga da Marambaia. Tudo o que fiz devo muito ao Rio de Janeiro, ao Brasil, sobretudo a este cenário, estas pedras, estas florestas, este mar imenso.
No depoimento gravado para o MIS (em 1967), Tom fala da Tijuca, onde nasceu e de onde se mudou aos 4 anos para o bairro que ajudou a imortalizar:
- Ipanema era um areal. A Lagoa tinha águas azuis. Tinha camarão, uma porção de peixe.
Tom fala do pai (o gaúcho e poeta parnasiano Jorge Jobim), da mãe (a carioca Nilza Brasileiro de Almeida) e do padrasto, Celso Pessoa, que o criou depois da morte de Jorge, em 1935. Sobre os hábitos do jovem Tom nos dias ensolarados, ele conta:
- Achava piano um negócio de menininha. Queria jogar futebol na praia.
Dentre os musicais, 'Surfboard', 'Corcovado', 'Wave', 'Retrato em branco e preto', 'Ela desatinou' (de Chico, com participação do próprio); 'Ela é carioca', com o Quarteto Jobim-Morelenbaum; 'Falando de amor', em estúdio, no dueto de Tom e Leila Pinheiro num especial de 1985 para a TV Bandeirantes; 'Samba do avião', e com o time de all stars no Ano Novo de 1996. No extra, Tom ao vivo, em 1985, e depoimento de Edu Lobo.