Leandro Souto Maior, Agência JB
RIO - Eles começaram meio que de brincadeira e acabaram se tornando um grande sucesso. Depois de cair no gosto dos cariocas com suas releituras de marchinhas de carnaval, sambas atemporais e outras misturas sonoras inusitadas, a Orquestra Imperial lançou este ano seu primeiro CD de músicas inéditas, "Carnaval só ano que vem".
A big band colocou todo mundo para cantar suas novas músicas em Brasília e São Paulo, e agora volta ao Rio, nesta sexta-feira, dia 28, para o palco que recebeu os bailes de carnaval promovidos pelo grupo e que foram fundamentais para sua consagração: o Canecão.
Tudo começou meio informalmente mesmo, a partir de shows do trio formado pelos músicos Kassin, Domênico e Moreno Veloso. Entre seus 19 integrantes, alguns já são mais conhecidos, como a atriz e cantora Talma de Freitas; o parceiro de Jorge Mautner, Nelson Jacobina; o grande baterista Wilson das Neves; e Rodrigo Amarante, do Los Hermanos.
Alguns aspectos da sonoridade da Orquestra fazem a diferença em relação a seus contemporâneos, mas um dos mais marcantes é o naipe de metais, que ao contrário do que acontece na maioria dos grupos, não fica lá atrás do palco, e sim bem na frente. O flautista e arranjador dos metais da Orquestra Imperial, Felipe Pinaud, conversou com o JB Online.
JB Online: Como se deu sua entrada na Orquestra e como foi assumir o posto de arranjador do naipe de metais do grupo?
Felipe Pinaud: O Bidu (Cordeiro, trombonista da Orquestra e também do naipe dos Paralamas e Cidade Negra), foi quem me chamou. Incialmente eu era apenas mais um integrante, não conhecia ninguém. Eu cheguei com o Max (Sette, trompete) para falar com o Berna (Ceppas, produtor e fundador da Orquestra) e aí começaram a rolar mil idéias boas. O Bidu mesmo nem foi neste primeiro ensaio! E tudo foi acontecendo naturalmente. Na verdade o Bidu é o chefe do naipe, eu só escrevo os arranjos, eu faço só a parte suja!
JB Online: Você considera o naipe de metais o principal diferencial da Orquestra Imperial?
Felipe Pinaud: O pessoal dá um destaque bacana ao naipe, mas não chega a ser o único diferencial. Também tem muitas guitarras, muitas percussões, muitas pessoas juntas, de diferentes formações, a banda é muito cosmopolita.
JB Online: Antes de lançar este disco de inéditas, vocês faziam o resgate de um repertório antigo de qualidade, envolvendo samba, gafieira, bossas e até brega... você acha que uma parte do público que ainda não conhece bem o repertório autoral pode não reconhecer a banda no show?
Felipe Pinaud: Acho que podem tomar um susto sim, mas acho que quem pode sofrer desse impacto seriam pessoas que pegam carona na repercussão do grupo, algum amigo que disse que o show tem várias músicas conhecidas, ou que o baile fica cheio... O publico em Brasília e em São Paulo cantou praticamente todas as musicas novas. A orquestra demorou cinco anos pra gravar e quando gravou, optou pelo repertório autoral. Mas a gente não abandonou as releituras: o show sempre acaba no baile, que é quando o finado Ballroom (extinta casa de shows onde a Orquestra fez sua estréia) vem à tona (risos)! A mudança é que antes era um "baile-show" e agora é um "show-baile".
JB Online: Você considera que a Orquestra aproximou seu público de um repertório de boas músicas brasileiras, de clássicos do samba, e tantas outras pérolas que vocês tocavam e ainda tocam ao vivo?
Felipe Pinaud: Acho que quem gosta do Los Hermanos, por exemplo, e ouve a Orquestra por causa do Rodrigo (Amarante), tem a oportunidade de ouvir sambas tocados de uma forma diferente, e aí se interessar pelos compositores, pelos intérpretes originais. Mas a Orquestra é uma banda de rock. Tem a ver com o título do disco, "Carnaval só ano que vem". A leitura dos sambas é diferente, não temos a pretensão de ser sambistas. Se for para ouvir essas músicas com a intenção de samba, as pessoas vão comprar os discos ou ir aos shows do Paulinho da Viola, do Zeca Pagodinho... Hoje em dia está na moda dizer que é sambista, gravar, resgatar... a Orquestra não. Até tocamos sambas e gafieiras, mas a tônica não é essa.
JB Online: Está programada alguma participação especial para esta única apresentação no Canecão?
Felipe Pinaud: Sempre tem, isso é uma marca dos nossos shows. Geralmente tem alguém já combinado, e às vezes pinta alguém na hora que não estava no roteiro e dá uma canja! Uma surpresa para o Canecão é a participação da Lucinha Nobre, porta-bandeira Estandarte de Ouro da Unidos da Tijuca e também porta-bandeira oficial da Orquestra, que vai dançar durante o show apresentando a nossa nova bandeira.
JB Online: Você toca flauta e faz os arranjos de metais na Orquestra Imperial, mas você também toca outros instrumentos, com destaque para a guitarra. Não dá vontade de tocar guitarra ou atacar em outros instrumentos no grupo?
Felipe Pinaud: Fico com vontade sim, e às vezes até toco, guitarra ou baixo, quando alguém não pode comparecer ao show, já que são 19 integrantes e nem sempre todos podem ir. Mas eu mato minha vontade tocando também em outros trabalhos. Já toquei com o Gabriel Pensador, Marcelo D2, Dudu Nobre, Seu Jorge, e atualmente estou acompanhando as cantoras Luka (do hit "Tô nem aí") e Alexia Bontempo e integro a banda Zambê, com o Donatinho, que é filho do João Donato, onde eu toco diversos instrumentos.
JB Online: Com tantas atividades e conquistas, quais os planos para o futuro?
Felipe Pinaud: Terminar alguns trabalhos que estão em andamento, como os CDs do Carlos Dafé e da cantora Madalena, que fiz a produção, gravar um disco próprio com músicas minhas e permanecer vivo!