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SÃO PAULO - Linha de Passe, novo filme de Walter Salles e Daniela Thomas, que estréia no dia 5 de setembro nos cinemas brasileiros, tem um trunfo que poucos diretores nacionais conseguem alcançar, talvez por medo do fracasso. O carismático elenco, escolhido a dedo pela produção do longa-metragem, é quem dá personalidade à trama, fazendo dela uma das maiores surpresas do cinema nacional dos últimos anos.
O filme conta a história de uma família de classe baixa que vive em um bairro de periferia na cidade de São Paulo. A mãe de quatro filhos, Cleuza (Sandra Corveloni, premiada no Festival de Cannes como melhor atriz), 'torcedora-roxa' do Corinthians, está grávida de um homem que só ela parece saber da existência. Doméstica, ela luta para manter seu emprego, mesmo com mais de seis meses de gestação, em um apartamento de família.
Um dos filhos, Dênis (João Baldasserini), é um moto-boy que se vê obrigado a pagar pensão a uma criança indesejada que teve com uma ex-namorada. Outro irmão, Dario (Vinícius de Oliveira), tenta arranjar uma vaga em um clube de futebol paulistano, mas sofre com a chegada dos 18 anos, idade acima da desejada para participar das seleções.
Fugindo de seu passado, o filho Dinho (José Geraldo Rodrigues) se entrega a uma religião evangélica e tenta seguir uma vida honesta. Já Reginaldo (Kaique Santos), o caçula e único negro da família, tenta encontrar o pai, que trabalhava como motorista de ônibus da capital paulista.
É assim que esses cinco personagens lutam para buscar um ideal em suas vidas, tomadas pela pobreza e falta de estrutura familiar. Assim como em Central do Brasil, o cenário social é colocado em voga, aqui retratando como é a vida - e as escolhas - de uma família que sofre dia-a-dia as dificuldades de viver na grande metrópole, afinal, este é o grande tema do filme.
Pulando fora do ambiente recorrente das favelas cariocas, Salles e Daniela buscam uma realidade muito mais parecida com a daqueles pertencentes à classe média. A idéia é tão plausível que, inicialmente, Linha de Passe ganharia um filme paralelo, retratando a vida na alta sociedade. Por enquanto, o projeto está engavetado.
A volta de Vinícius de Oliveira às telas é uma boa surpresa - no início é difícil reconhecer o menino de Central do Brasil - , mas quem se destaca mesmo é a dupla Sandra Corveloni (que ganhou o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes pelo papel) e Kaique Santos, de apenas 15 anos.
Preservando um jeito malandro e extremamente carismático, Kaique, é a melhor surpresa do filme, especialmente quando entra em cena do lado de Sandra.
João Baldasserini e José Geraldo Rodrigues não ficam muito atrás com interpretações realistas. No fim, Walter Salles merece aplausos por fugir do elenco óbvio - representado, hoje, por muitos atores globais de talento duvidoso - e investir em quem realmente merece atenção.